• Congelamento de óvulos e Psiquiatria

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Um tema muito importante para a mulher com ou sem transtornos psiquiátricos é a possibilidade de congelar os óvulos e poder adiar momentaneamente a possibilidade de gravidez!

Tanto a mulher com doenças cerebrais graves como depressão, transtorno bipolar ou esquizofrenia quanto mulheres sem doenças psiquiátricas mas que se vêm envelhecendo e sem a possibilidade de engravidar a curto prazo, quer seja por não terem um parceiro, quer seja por motivos sociais ou profissionais, acabam se deparando com a pressão de poderem ter dificuldades para engravidar por conta do envelhecimento.

O organismo muitas vezes não pode esperar pois a taxa de fertilidade cai vertiginosamente após os 35 anos. Mas existem possibilidades para este tipo de problema e um deles é o congelamento dos óvulos. Já ouviu falar sobre este tratamento que tem contribuído pela manutenção do sonho de poder engravidar em idades mais avançadas?

Veja este texto da página da Dra. Kelly Alessandra Ginecologia & Obstetrícia:

CONGELAMENTO DE ÓVULOS

👉🏼 Atualmente muitas mulheres optam por adiar a maternidade em função de seu trabalho, estudos ou por não terem um parceiro. Além destas mulheres existem também aquelas que terão de ser submetidas a tratamentos de quimioterapia, radioterapia que podem levar a infertilidade. Nestas situações o congelamento de óvulos pode ser uma opção para as mulheres que pretendem ser mães no futuro;

👉🏼 No processo para congelamento de óvulos, a mulher é submetida a uma estimulação dos ovários e seus óvulos são retirados, congelados (em nitrogênio líquido) e armazenados por tempo indeterminado. No momento em que julgar oportuno, estes óvulos são descongelados e a mulher poderá utilizá-los para realização de fertilização in vitro e desta forma, engravidar;

👉🏼 A idade ideal para congelar óvulos é até os 35 anos, já que a partir desta idade a qualidade e quantidade dos óvulos diminui;

👍🏼 Se você pretende ou precisa adiar a maternidade, não deixe de conversar com seu ginecologista a respeito do congelamento de óvulos

  • DIA MUNDIAL DO TRANSTORNO BIPOLAR

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Dia 30 de março que foi instituído no mundo todo como o Bipolar Day (Dia Mundial de Conscientização sobre o Transtorno Bipolar). Nossos esforços são grandes no sentido de desmistificar para as pessoas o que é de fato bipolaridade e por isso listamos 10 fatos sobre o transtorno bipolar que todo mundo precisa saber:

1️⃣ É uma doença em que algumas áreas do cérebro (humor, energia, impulso, pensamento e movimentação) sofrem desregulação levando a mudanças no comportamento dos indivíduos acometidos;

2️⃣ Não possui nenhuma relação com a personalidade ou caráter do indivíduo, é uma desregulação no sistema nervoso que muda a forma da pessoa se comportar ao longo da vida motivada pela maneira como o cérebro está funcionando;

3️⃣ O trabstorno bipolar tipo I (forma clássica que alterna períodos maníacos com depressões) é rara, em torno de 1% na população, ao passo que o transtorno bipolar tipo II (forma em que predominam depressões e curtos períodos de ativação) são bem mais comuns, em torno de 5 a 8%, mas que em contrapartida sofrem com uma média de 15 anos de erro diagnóstico, sendo tratadas como depressão clássica com sucessivos tratamentos que podem inclusive agravar a doença;

4️⃣ Uma minoria super rara de portadores de transtorno bipolar alterna períodos de tristeza (depressão) com períodos de alegria (euforia). A maioria alterna períodos de depressão com períodos de irritabilidade do tipo agressiva (raiva, ódio, hostilidade, pavio curto);

5️⃣ Existem várias intensidades de alteração de humor, desde as mais fortes que levam o indivíduo a ser internado no hospital (crise de mania) até as bem sutis em que a pessoa e até seus familiares muitas vezes acreditam ser da personalidade dada a cronicidade em que ocorrem (hipomanias);

6️⃣ Existem formas variadas de apresentação de transtorno bipolar desde aquelas em que há períodos ou fases marcadas de mudanças de comportamento até aquelas sutis em que os comportamentos alterados ocorrem por longos períodos como meses ou anos;

7️⃣ Um indivíduo com transtorno bipolar vai ter cerca de 3 vezes mais depressões do que fases de ativação (mania/hipomania). Ou seja, é uma doença depressiva. Qualquer pessoa com mais de 3 episódios de depressão precisa ser investigada para bipolaridade porque até entre os Psiquiatras ainda só se diagnostica Transtorno Bipolar se o paciente teve um período de mania (tipo 1 da doença). Existe muito desconhecimento sobre formas mais sutis de bipolaridade;

8️⃣ A principal causa de suicídios é a depressão do transtorno bipolar (tipo 1 ou 2). Logo, tentativas de suicídio recorrentes aumentam a chance de o diagnóstico correto ser algum tipo de transtorno bipolar e não depressão clássica;

9️⃣ Quanto mais comorbidades com outras doenças psiquiátricas (ansiedade, deficit de atenção, uso de drogas, transtornos alimentares, entre outras) maior a chance de o diagnóstico correto ser algum tipo de transtorno bipolar e não depressão clássica;

🔟 Quanto mais ocorrer falta de resposta ao tratamento ou piora da depressão ou piora das ideias de suicídio ou piora das automutilações ou piora da insônia ou piora da ansiedade/pânico ou piora da irritabilidade com o uso de antidepressivos, maior a chance de o diagnóstico correto ser algum tipo de transtorno bipolar e não depressão clássica;

  • Política de redução de danos no tratamento do uso de drogas: ruim ou péssimo?

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Por que a antiga política de saúde mental para o tratamento da dependência química insiste em medidas de redução de danos sendo que nenhum estudo científico no assunto demonstrou evidência do benefício destas medidas em se tratando de controle da doença?

A Redução de danos é um conjunto de políticas e práticas cujo objetivo é reduzir os danos associados ao uso de drogas psicoativas em pessoas que não querem parar de usar drogas.
Em palavras simples é permitir que uma pessoa com câncer de pulmão continue fumando até parar de respirar.

O início destas intervenções ocorreu concomitantemente ao surgimento de vieses ideológicos que combatem medidas de saúde bem estabelecidas com discursos disfarçados de direito à cidadania e “Direitos Humanos”. Esse tipo de movimento ignora e tenta combater medidas diretivas de saúde com o discurso de que o dependente químico pode se tornar protagonista de suas escolhas e seus tratamentos, de que possuem o livre arbítrio de realizarem seu próprio auto-cuidado.

Pode parecer absurdo que grupos ideológicos e políticas governamentais tenham apoiado esse tipo de política mas esse é mais um exemplo do quanto alguns grupos sociais, por desconhecimento, ignoram aspectos científicos e atribuem a fatores sociais, culturais e políticos a causa da dependência química. Assim como em qualquer doença psiquiátrica (e médica, em geral) fatores de vida influenciam o adoecer mas nem por isso todas as pessoas que bebem ou usam outras drogas viram dependentes químicas. Sempre é necessário uma predisposição cerebral que instala a doença e por isso não podemos aceitar medidas “humanistas” no controle do uso de drogas do tipo “ele pode escolher se pode continuar usando maconha”. A dependência química sendo uma DOENÇA a pessoa pode não ter total discernimento sobre as consequências do não tratamento e medidas paliativas em uso de drogas é o mesmo que deixar a pessoa fumar à medida que vai ficando asfixiada em uma crise de asma…

  • Uso da eletroconvulsoterapia (antigo eletrochoque) na Psiquiatria.

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Ultimamente temos visto muito preconceito sobre o uso da eletroconvulsoterapia (ECT) na Psiquiatria. Ignorância só se combate com informação:

O nome técnico do procedimento médico é eletroconvulsoterapia (ECT), ou seja, uma terapia baseada na ocorrência de convulsões controladas induzidas por um aparelho elétrico. Não existe no momento presente da Psiquiatria nenhuma terapia em que se dê choque em uma pessoa acordada com finalidades terapêuticas.

Todo ECT é realizado com paciente inconsciente após procedimento anestésico e em ambiente hospitalar.

O mau uso destes aparelhos no passado deve levar a reflexões sobre como os seres humanos se utilizaram de instrumentos benéficos para a Medicina também para torturar.

Nize da Silveira foi uma Psiquiatra que por não ter conhecimentos suficientes em Neurociências e Neurobiologia optou por criticar procedimentos de vanguarda da sua época (como o ECT) e contribuiu para manter, naquele momento, pacientes psicóticos com sintomas cronificados.

O aparelho de ECT usa uma corrente elétrica de 100 joules por dois ou três segundos sob anestesia no sistema nervoso auxiliando na ressincronização do funcionamento cerebral e no retorno à vida de um paciente deprimido, mas as pessoas consideram tortura. Uma desfibrilação cardíaca libera 360 joules no coração sem anestesia para fazer o coração bater novamente e não é tortura!

Uma mulher gestante com ideação suicida grave ou com um transtorno psicótico qualquer tem muito mais segurança usando o ECT do que recebendo antipsicóticos diariamente.

Para quem NÃO está gravemente deprimido sem conseguir ir trabalhar ou pra quem NÃO tem um irmão em surto psicótico fora da realidade é fácil criticar um procedimento que não vai interferir em nada com a sua própria vida ou de quem se ama.

Antes de compartilhar preconceito disfarçado de engajamento, leia, estude e se informe!

[0] https://www.sane.org/…/facts-…/electroconvulsive-therapy-ect

[1] https://journals.lww.com/…/Efficacy_of_ECT_in_Depression__A…

[2] https://www.sciencedirect.com/…/artic…/pii/S0920996413000972

[3] https://onlinelibrary.wiley.com/…/…/j.1600-0447.2009.01493.x

[4] https://psycnet.apa.org/record/2003-01982-001

[5] https://www.sciencedirect.com/…/artic…/pii/S016503271531288X

[6] https://www.sciencedirect.com/…/artic…/pii/S0165032700003141

[7] https://www.brainstimjrnl.com/…/S1935-861X(18)3094…/fulltext

[8] http://www.jneuropsychiatry.org/…/patient-reported-experien…

  • Fanatismo e Doença Psiquiátrica

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O controle dos impulsos (também chamados de motivação, vontade ou volição) é uma das funções cerebrais mais importantes, pois definem a capacidade de tomada de decisões, de iniciar uma tarefa, de escolher e de flexibilizar (mudar de ideia, ser maleável, aceitar a opinião do outro, saber fazer várias coisas, sem se fixar obstinadamente numa única ideia ou estímulo). As doenças afetivas (depressão e a bipolaridade) são sempre doenças do humor, da energia, do impulso e do pensamento. É esperado que, em qualquer grau de depressão (cérebro desligado), a pessoa perca impulso e em qualquer grau de estado maníaco (cérebro ativado), a pessoa aumente a impulsividade, a vontade, ou seja, seus desejos e “verdades”.

Muitas vezes pensamos na doença psiquiátrica como algo distante de nós, naquele doente internado no manicômio ou sanatório e totalmente fora da realidade. A verdade é que as doenças no cérebro ocorrem sempre num continuum. Seria muito leviano esperar que desregulações no sistema nervoso fossem 8 ou 80, tem ou não tem doença. O fato é que mesmo pessoas que ainda mantenham a funcionalidade no dia-a-dia podem, e muitas vezes possuem, sintomas de desregulação cerebral em alguma área.

Alguns comportamentos que vemos no dia-a-dia muitas vezes nos parecem estranhos ou exagerados, mas dificilmente fazemos a ligação entre os fatos de que podem ser comportamentos normais ou são o espectro de alguns sintomas de doenças psiquiátricas. O fanatismo é um bom exemplo disso, representa uma pitada do que seriam excesso de impulso numa área específica, adesão cega a um sistema ou doutrina, dedicação excessiva a alguém ou algo, paixão. O conteúdo (o tipo de fanatismo) pode variar, mas a forma é a mesma, é um cérebro intransigente, cego, obstinado, que não aceita questionamento, com um foco aumentado no querer, é semelhante a um tipo de compulsão. Em alguns casos o “querer demais” é tão intenso que sai da realidade (delírio, crença falsa) e a pessoa pode extrapolar os princípios da realidade conhecida e passar a obedecer regras que não seguem a razão, mas sim o delírio instalado. A conduta da pessoa fanática é marcada pelo radicalismo e por absoluta intolerância para com todos os que não compartilhem suas predileções, tem uma visão-de-mundo unilateral, rígida, cultivando a dicotomia bem/mal, onde o mal reside naquilo e naqueles que contrariam seu modo de pensar, levando-o a adotar condutas irracionais e agressivas que podem, inclusive, chegar a extremos perigosos, como o uso da violência para impor seu ponto de vista. Exemplos de tipos de fanatismo:

(1) Religioso: pessoas cegas, viciadas em dogmas e crenças religiosas. Não aceitam opiniões contrárias. Querem mostrar a todos que estão certos e levar a elas a salvação (que está, segundo eles, apenas em sua religião).

(2) Político: são pessoas excessivamente apegadas a um determinado grupo ou linha política. Brigam e até matam por política. Defendem suas ideias mesmo com provas contrárias. Se apegam a líderes e colegas de partido de uma maneira intensa e “dogmática”. Seguem mais a ideologia do que a razão.

(3) Esportivo: dedicação excessiva a um time a ponto de estreitar suas atividades e agir de maneira a ficar violento quando o time de devoção sofre derrota ou quando o fanático esportivo se vê provocado por rivais.

(4) Amoroso: pessoas que apresentam fixação mental em outra, buscam o tempo todo saber o que outro está fazendo e com quem está se relacionando. Pensam excessivamente no outro e restringem todo o amplo campo de possibilidades do impulso (atividades que poderia desempenhar) à pessoa por quem está obcecada. Podem matar quando se tornam efetivamente doentes e saem totalmente da realidade a ponto de ficarem delirantes.

(5) Ideológico: pessoas que ficam fixadas em determinadas regras de vida que elas acreditam serem soberanas. Não aceitam questionamentos e recriminam quem pensa diferente. Aqui estão agrupados vários grupos como os defensores de alimentação vegetariana/vegana, defensores de parto humanizado (anti-cesárea), defensores de ideologias de gênero, agentes anti-ciência (contra vacinas, contra antibióticos, contra episiotomia, contra antidepressivos, psicólogos contra eletrochoque, filósofos contra psiquiatria, etc).

O fanático costuma ser uma pessoa comum, do nosso dia-a-dia. A identificação do fanático pode ficar oculta até que ele seja colocado numa situação em que se vê questionado ou que encontre oposição às suas ideias. Se tornam pessoas difíceis, rígidas, dogmáticas, categóricas e impositivas. Não aceitam questionamento, angariam prejuízos nas relações pessoais e só acabam tendo magnitude das perdas depois de muitos anos. Abordar este tipo de sintoma com alguém acometido pode ser muito difícil. Os familiares e amigos precisam ter cautela ao exporem o problema e o cuidado com o preconceito ainda corrente sobre doenças e sintomas psiquiátricos.

  • “Mais louco era eu que não queria ser ajudado…”

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A Psiquiatria é uma das poucas especialidades em que o médico precisa ter um papel ativo em ajudar o doente a identificar sintomas que não são da personalidade mas decorrentes de uma desregulação cerebral. Em todas as outras áreas da medicina a pessoa chega dizendo ao médico: “Doutor, dói o meu joelho” ou “Estou com febre” ou “Estou com dor de cabeça”. Na Psiquiatria o que ouvimos muitas vezes é “Estou empurrando com a barriga minhas atividades porque não gosto mais do meu trabalho”, “Não estou dormindo à noite porque fico vendo filmes interessantes” ou “Estou mais triste porque meu trabalho está desinteressante”. O cérebro quando está doente, ao contrário das outras doenças em que ele consegue identificar o que não está funcionando (minha cabeça dói, meu joelho dói, etc), acaba buscando explicações psicológicas para justificar e tentar explicar a insatisfação e o sofrimento que o cérebro sabe que existe mas não consegue identificar direito de onde vem. O sistema nervoso não possui um sistema de monitoramento de problemas que identificam e dizem “Olha, tem uma área do seu cérebro que não está produzindo bom humor e vontade de fazer as coisas”. Ao contrário disso, ele fica buscando entender com base no ambiente e na vida da pessoa o porquê de ela estar insuficiente em relação ao estado habitual.

Tudo isso explica o porquê de em todas as doenças psiquiátricas aquele que sofre do problema NÃO TER CRÍTICA (“estar louco, não estar ciente do real problema”), de estar com uma doença e não conseguir identifica-la, pelo menos não completamente. O cérebro deprimido fica cego para as possibilidades da vida, fica sem energia, não consegue se animar, se sentir bem, ter vontade de fazer as coisas e a pessoa acredita que todas estas coisas são reais e explica os seus sintomas com base naquilo que ela acredita ser a “causa” pra depressão. O cérebro em mania (euforia) fica inadequado, desinibido, sem noção, acelerado, impulsivo e inconsequente e a pessoa também não percebe que está fazendo algo que a prejudica.

Compartilhe este texto e ajude alguém que não esta se deixando ser ajudado.

  • Ganho de peso: comer por ansiedade ou comer por impulsividade?

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Em que circunstâncias uma pessoa pode comer muito? Ao contrário do que as pessoas pensam, a principal causa de descontrole alimentar não é o comer por ansiedade, mas sim o comer compulsivo. A maior parte das pessoas acha que comem por serem ansiosas mas isso não é bem verdade, a maioria das pessoas comem por aumento de impulso alimentar e perda de freio, que é o comer compulsivo.

No caso do comer por ansiedade o indivíduo come para aliviar um estado de humor ansioso, isto é, de medo, insegurança, preocupação e mal-estar associado a eventos negativos que possam vir a ocorrer. É comum este tipo de pessoa apresentar outras comportamentos que indicam que o sistema nervoso da pessoa apresentam ativação de áreas cerebrais associadas a preocupação, medo e ansiedade:

❇️ Ansiedade generalizada (insegurança em atividades de vida diária);
❇️ Crises de pânico;
❇️ Fobia social (insegurança em situações sociais);
❇️ Agorafobia (medo de ficar em casa ou sair de casa desacompanhado)

Já no caso do comer compulsivo o indivíduo apresenta uma elevada ingestão de alimentos em um curto intervalo de tempo com sensação subjetiva de perda de controle. A pessoa come, mesmo sem fome, de maneira exagerada por perda do freio comportamental. É comum este tipo de pessoa apresentar outras características cerebrais de aumento de impulsividade:

fumar em excesso ou usar outras substâncias químicas de maneira abusiva (álcool, cafeína, energéticos, etc);
Gastar de maneira descontrolada;
Maior tendência a jogar compulsivamente ou mexer no celular ou na internet de maneira excessiva;.
Apresentar episódios de comportamento sexual excessivo;.
Trabalhar compulsivamente/workahoolic;

A determinação das circunstâncias em que o indivíduo se descontrola no comer são importantes pois delimitam para os profissionais que vão auxilia-lo, quer seja médico, psicólogo, nutricionista e educador físico, quais as estratégias serão utilizadas para o controle alimentar a perda de peso. Pessoas com ansiedade se beneficiam muito de psicoterapia e medicamentos que aliviam o mal-estar ansioso e pessoas com impulsividade alimentar se beneficiam de psicoterapia focada no controle de impulso e medicamentos que reduzem a impulsividade.

  • USP contabiliza 4 suicídios em 2 meses e as pessoas continuam atribuindo causas sociais aos suicídios.

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Os números só crescem, a pressão em cima de nós que trabalhamos com transtornos afetivos só aumenta, o tempo passa e a maior parte das pessoas e da mídia continua escondendo doenças psiquiátricas atrás de hipóteses sociais como se o suicídio acontecesse por causa de “estresse”, “perda de emprego”, “provas difíceis na FMUSP” ou “fim de relacionamentos”. Por mais duro que possa soar e por mais preconceito que possa existir a verdade é muito simples: existem doentes psiquiátricos em TODOS os lugares, nas “melhores” famílias, nas “melhores” universidades, nas “melhores” empresas, enfim, onde existe qualidade também existe risco de adoecer do cérebro. Doença psiquiátrica não é coisa de manicômio, não é coisa para ser escondida no quarto dos fundos, não é fracasso ou coisa para se envergonhar.

É um dever dos psiquiatras modernos, cientistas do cérebro e do comportamento romper com esse ranço do passado, em que a Psiquiatria se misturava com questões políticas, ideológicas e sociais. O suicídio é reflexo de problemas no sistema nervoso central e é em regra desencadeado por doenças que sabemos tratar com sucesso como a depressão clássica, a depressão do transtorno bipolar, a depressão associada a transtornos ansiosos graves (fobia social, pânico, etc), a depressão do estresse pós-traumático, a esquizofrenia, etc. O maior problema consiste no fato de um tema claramente “psiquiátrico” ser tratado como algo “social” ficando sua resolução para pessoas “leigas” e a mídia ter medo de usar o termo psiquiátrico e preferir abrandar o assunto com o termo “psicológico”.

É meio óbvio que a qualidade de vida dos universitários hoje melhorou em relação às décadas anteriores. Nunca uma parcela tão grande da população teve uma vida com tanto conforto. Há poucos anos atrás nosso país tinha uma legião de analfabetos, escravos de uma jornada de trabalho gigantesca, hiperinflação, falta de liberdade, preconceitos e o acesso a universidade era uma raridade. Vivemos muito melhor do que há 50 anos atrás. Os cursos de medicina atuais são infinitamente mais brandos que eram há duas décadas atrás, mas então o que explica essa “onda de suicídios”? É uma combinação muito maior de biologia do que de ambiente. O problema não é bem o mundo moderno que exige demais e coloca muita pressão nos jovens. Todo mundo acha normal a população na década de 80 ir dormir em média as 23:00 e hoje em dia a média em que as pessoas se deitam ser 00:30? A quebra da biologia do cérebro é algo perigosíssimo e os celulares com luz azul são um veneno para o relógio biológico (hipotálamo). Com a quebra do ciclo sono-vigilia, com a estimulação excessiva de crianças e adolescentes com antidepressivos, ritalina, cocaina, anfetaminas é impossível achar que o sistema nervoso continuará intacto se em 30 anos mudamos hábitos que perduravam por séculos! Aquelas crianças com transtorno bipolar que há 30 anos atrás eram expulsas das escolas por mal comportamento hoje estão chegando a universidade pois sabemos identificar melhor e tratar o transtorno. Até esquizofrênicos estão no ensino superior graças aos modernos antipsicóticos.

Deveríamos tentar pausar essa tragédia do jeito certo, rompendo o politicamente correto e deixando claro que tem SIM alunos nas universidades doentes: bipolares, ansiosos, com TOC, psicóticos, etc. Estas pessoas são doentes psiquiátricos e não vítimas do “sistema”, “provas difíceis”, “capitalismo”, “cobranças” ou que quer que seja. Se isso passar a ser visto de maneira como é poderemos as reabilitar para que superem esses desafios. É até mais humano oferecer tratamento do que ter pena de “vítimas do sistema universitário opressor”. Na própria reportagem há um erro em achar que vão prevenir suicídio criando uma “disciplina universitária” sobre o suicídio. As universidades deveriam ser estimuladas a oferecer tratamento com médicos psiquiatras, assim efetivamente poderiam reverter essas tragédias.

  • O caso “Dr. Bumbum”: transtorno de personalidade antissocial ou transtorno bipolar?

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Recentemente a população se deparou com a notícia da morte de uma mulher que teria se submetido a procedimentos estéticos numa clínica com pouco suporte clínico no Rio de Janeiro sob os cuidados do médico Denis Furtado, apelidado pela mídia de “Dr. Bumbum”. Nesta semana por meio das mídias sociais várias hipóteses têm sido levantadas sobre qual transtorno psiquiátrico levaria um médico a realizar procedimentos e correr vários riscos, inclusive o de óbito de pacientes, sem se dar conta do real perigo desta conduta.

Toda vez que nos deparamos com eventos que envolvem morte e possível falta de empatia sempre vem à mente a hipótese da psicopatia, um transtorno da personalidade em que o indivíduo apresenta falta de remorso e empatia como traço inerente à personalidade, isto é, ao jeito de ser e se desenvolver de alguém. O que pouco se fala é que não existe psicopata que ficou ou se tornou psicopata na vida adulta ou depois de ter virado médico ou depois de ter se tornado rico ou depois de ter se casado ou após um determinado período da vida, isto não é possível. O termo psicopata ou antissocial é a designação atribuída a um indivíduo com um padrão comportamental recorrente, devido a um transtorno na personalidade, caracterizado por insensibilidade, frieza, diminuição da capacidade de empatia/remorso e pela presença de uma atitude de dominância desmedida. Esse tipo de comportamento pode, mas nem sempre, acabar levando a ocorrência de crimes, mas em casos socialmente adaptados também se relaciona a cargos de chefia e liderança com alguns traços de tirania e exigência desmedida. O psicopata apresenta o comportamento antissocial desde o início da adolescência e que se torna mais estável e evidente na vida adulta, não existem fases de personalidade mais fria e em outras mais empática, o psicopata é frio e insensível o tempo todo.

O espectro dos transtornos bipolares, por outro lado, é um conjunto de doenças caracterizadas por oscilação de humor, energia e impulsos em que pode predominar fases depressivas ou fases maníacas (períodos de ativação) a depender de como o cérebro do indivíduo oscila mais para um lado ou o outro. A grande questão é que quanto mais leve o transtorno bipolar mais os sintomas se misturam com comportamentos menos problemáticos e que são confundidos com traços da personalidade da pessoa. Entretanto, uma dica importante e que permite a diferenciação é que traços de personalidade são constantes, estáveis e não oscilam de tempos em tempos. Em portadores de transtorno bipolar mais suave é comum a pessoa conseguir manter atividade social e até mesmo profissional sem que hajam prejuízos evidentes, pelo menos em curto prazo. Entretanto, quem convive e observa o comportamento pode notar características que oscilam e recorrem de tempos em tempos que são sintomas leves de bipolaridade como mudanças de humor para depressão, euforia ou agressividade (pavio-curto, insensível, frio, exigente, autoritário, tirano, maldoso, cruel, irônico, sarcástico, briguento); comportamentos impulsivos; grandiosidade (senso de razão aumentado, empáfia, arrogância, destemido, ameaçador, onipotente, não mede os atos e consequências, etc); aumento de energia e redução da necessidade de sono (dormem pouco, ficam workhahoolics, etc); se tornam agitados, hiperativos, ansiosos e acelerados.

Como podemos ver, observar um comportamento frio e insensível pode muitas vezes nos enviesar para conclusões precipitadas. Diagnósticos de transtornos psiquiátricos devem ser avaliados à luz de toda história de vida e traços comportamentais e dos conjuntos de sintomas que cada indivíduo apresenta pois muitas vezes um comportamento que pode ser sugestivo de algo na personalidade pode na realidade fazer parte de um outro transtorno mais complexo que abarca outras alterações. E isso tem importância porque transtornos que envolvem agressividade e crimes como o transtorno bipolar e o transtorno de personalidade antissocial se encaixam na lei naquilo que chamamos de crime semi-imputável em que a pessoa teria consciência do que está cometendo mas há um transtorno cerebral de fundo impulsionando e direcionando o comportamento. Não avaliamos o colega médico em questão, apelidado pela mídia de “Dr Bumbum” e não poderíamos emitir um diagnóstico sem uma correta avaliação clínica. Temos que ter cuidado ao chamarmos de psicopata quem comete crimes pelo simples fato de um comportamento nos parecer vil, existem muitos motivos que levam a crimes: transtornos de personalidade, transtorno bipolar e também casos sem doença nenhuma, mas isso não pode ser emitido por opinião pessoal, é preciso uma avaliação séria antes de impressões levianas.\

  • O suicídio e os diagnósticos simplistas de “depressão”.
  • Recentemente duas pessoas talentosas e admiradas mundialmente – uma do mundo da moda e outra da área de gastronomia – chocaram o mundo ao tirarem as próprias vidas. Anthony Bourdain, diziam muitos, tinha o emprego dos sonhos, viajando pelo mundo e mostrando em seu programa a cultura e a culinária de lugares desconhecidos. Kate Spade era uma conhecida estilista norte-americana que influenciou milhares de mulheres com seu trabalho inovador, irreverente e feminino. Ambos cometeram suicídio na mesma semana e da mesma maneira, tragicamente trazendo à tona, mais uma vez, a discussão sobre o tema.

    A sociedade em geral precisa compreender melhor o que realmente esta por trás da grande maioria dos casos de suicídio para poder prevenir e atuar de maneira eficaz diante de alguém com mudança de comportamento e sinais de alerta para suicídio. Muito se fala de fatores de risco para suicídio e sempre se olha para o tema vendo a ponta do iceberg, os estressores ou gatilhos para o evento (perda de emprego, problema financeiro, separação, bullying, assédio moral, burnout, etc), mas pouco se fala sobre as raízes de um comportamento suicida. Quem se suicida está doente, isso é um fato, mesmo que a doença esteja francamente oculta, silenciosa. A maior parte dos casos de suicídio traz, em algum grau, alguma desordem em nível de sistema nervoso e de regulação emocional. Muitas vezes, quando o assunto é tratado de maneira pública, o termo “depressão” é utilizado. Entretanto o termo se popularizou de uma maneira incorreta do ponto de vista médico, de doença, sendo mal compreendido por muitos.

    Na psiquiatria existem mais de um tipo de depressão, sendo os principais a depressão melancólica, a depressão ansiosa, a depressão atípica e a depressão mista. A depressão melancólica é a retratada nos filmes e por isso é o que a maior parte das pessoas acredita ser depressão. É um tipo grave em que os pacientes podem apresentar intensa lentidão motora, ficam de cama, parados o tempo todo, não comem, não tomam banho e têm acentuada perda da capacidade de sentir prazer por coisas antes prazerosas. A característica principal da melancolia é a completa ausência de reatividade do humor, ou seja, a pessoa não se anima com nenhum estímulo positivo.
    Na depressão ansiosa os pacientes apresentam sintomas depressivos menos graves, porém apresentam uma proeminência maior de sintomas ansiosos (medo intenso, preocupação, tensão, hipervigilância e insegurança). Na depressão atípica a pessoa sente um humor de apatia, sono excessivo durante o dia, aumento exagerado de apetite e reatividade do humor (melhora com fatores positivos eventuais).

    A mais perigosa e desconhecida é a depressão mista, pois apresenta maior risco de suicídio.
    São quadros de depressão com maior agitação mental, desespero, angústia, dificuldade de concentração por distraibilidade e pensamento acelerado, maior irritabilidade, maior impulsividade (fumar demais, beber demais, gastar compulsivamente, abuso de calmantes, etc), aumento da fala reclamando e sofrendo com a depressão, labilidade de humor (momentos bem melhor e momentos péssimo). Este conceito é importante, pois muitos pacientes que acabam desenvolvendo depressão mista são pacientes com personalidade hipertímica (extrovertida), que envolve sintomas leves de mania inerentes ao temperamento ao longo de toda a vida como aumento da energia, necessidade diminuída de sono, libido aumentada, sociabilidade, extroversão e bom senso de humor. Esses indivíduos muitas vezes correm mais riscos, são mais criativos, audaciosos, se impõem cargas de trabalho maiores (workaholics). A criatividade é algo que desde muito tempo se correlaciona com os transtornos do humor. Por isso, em muitas profissões que têm em comum a criatividade (artistas, cantores, estilistas, chefs e apresentadores de televisão) muitas vezes nos deparamos com níveis maiores de suicídios. A depressão mista é um grande fator de risco para o suicídio, pois muitas vezes os pacientes apresentam-se com ideação suicida e com muita agitação psicomotora, o que os leva a colocar em prática a ideia de morte. Os pacientes normalmente apresentam-se agitados e ansiosos, sentindo um sofrimento extremamente grande, para o qual a única saída é a morte. Sabe-se que com relação a Anthony Bourdain ele não tinha tomado um único copo de bebida alcoólica ou usado qualquer tipo de droga, o que nos faz imaginar o tamanho do seu sofrimento ao se suicidar. Outro fator importante que contribui para o aumento da incidência dos episódios mistos é o crescente uso de antidepressivos, que tem ocorrido desde os anos 80, com a introdução de antidepressivos com menos efeitos colaterais e mais aceitos pelo público em geral (fluoxetina, sertralina, paroxetina, citalopram, escitalopram, venlafaxina, duloxetina, etc). Esta classe de medicamentos não é tão inócua quanto parece e está intimamente ligada com o aumento do número de depressões mistas, podendo levar também a um aumento das ideações suicidas se prescritas sem um diagnóstico adequado.
    O tratamento dos episódios de depressão mista deveria ser feito com estabilizadores de humor (lítio, anticonvulsivantes ou antipsicóticos) sozinhos ou associados aos antidepressivos.

    Devemos começar a tratar a prevenção do suicídio de maneira diferente, com mais vigor do que se vem fazendo hoje. Em primeiro lugar devemos começar a ser mais críticos com relação a diagnósticos de “depressão”, de que tipo de depressão está se tratando? As altas prescrições de antidepressivos devem ser revistas, e as medicações adequadas para o tratamento dos transtornos do humor devem ser mais utilizadas. Não podemos mais negar dados tão concretos sobre a prevenção de suicídio, como o uso de medicamentos como o lítio, uma medicação barata e de fácil acesso. Esta droga chega a reduzir aproximadamente 90% dos suicídios em estudos controlados comparados com placebo. O estigma com relação ao suicídio ainda é grande. Se a classe médica em geral não tiver cuidado nos diagnósticos simplistas de depressão muitos dos nossos ídolos e pessoas normais do dia-a-dia serão interrompidos abruptamente da possibilidade de nos prover com seu trabalho e arte.

    • O enigmático transtorno bipolar tipo 2.

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    Ainda está longe de ser conhecido pelo público geral e ainda é um transtorno que demora cerca de 10 anos com sucessivos tratamentos e diagnósticos equivocados para uma correta identificação. O transtorno bipolar tipo 2 é uma doença cerca de 3 a 5 vezes mais frequente do que a forma clássica (transtorno bipolar tipo I ou maníaco) e possui uma apresentação clínica bem diferente do que a maioria das pessoas imagina ser alguém bipolar ou com transtorno bipolar.

    O que a maior parte das pessoas não sabe sobre o transtorno bipolar tipo 2:

    São pessoas que fazem parte do nosso dia-a-dia, não dá para saber pelo comportamento diário que alguém tenha este transtorno. Isso porque é um quadro em que predomina depressão (múltiplos episódios) sem alterações estranhas, exageradas ou típicas da fase maníaca de bipolaridade como euforia, hiperssexualização, gastos com endividamentos, psicose, etc.

    Apresentam sintomas maníacos extremamente sutis com alterações de humor, energia, impulsos e pensamento que podem passar despercebidas como sendo da personalidade do indivíduo, até mesmo para a própria pessoa.

    Muito comumente ocorre em indivíduos com personalidade prévia hipertímica (extrovertida) que acabam escondendo os picos de humor “maníacos sutis” já que normalmente a pessoa já é extrovertida, agitada, impulsiva, acelerada e falante, ocorrendo muito em artistas, líderes, atletas, etc. Quando a pessoa tem depressão fica difícil identificar que ela tenha tido previamente oscilação de humor para cima e ficam sendo tratados apenas como depressão e não bipolaridade;

    Normalmente apresentam sintomas de humor denominados mistos (mistura de aceleração com depressão) como irritabilidade, aceleração de pensamentos, aumento de impulsividade (beber, comer, usar calmantes, sexo, etc), ativação noturna (dificuldade de desligar à noite sem sono durante o dia), distraibilidade e dificuldade de concentração, inquietação física que acabam sendo diagnosticados erroneamente como depressão com ansiedade, depressão com transtorno de personalidade borderline, depressão com TDAH, depressão com dependência química, etc.

    Muitas pessoas com depressão de longa data acabam se descobrindo como portadores de transtorno bipolar tipo 2. No começo é um choque e a negação porque sabem que nunca tiveram fase maníaca clássica e só conseguem enxergar como transtorno a depressão, pois é ela que causa sofrimento. Ao nosso redor pessoas importantes, juízes, advogados, policiais, delegados, enfermeiros, nutricionistas, médicos, professores, enfim, qualquer pessoa que esteja perto de você pode ter transtorno bipolar de tipo 2. E qualquer pessoa também pode ter transtorno bipolar de tipo 1. Nenhuma destas doenças tem a ver com caráter ou valor de uma pessoa, são doenças em um órgão (o cérebro) como outro qualquer. O grande problema é que na bipolaridade tipo I a doença é forte a ponto de a pessoa e os familiares verem que a pessoa mudou o comportamento por conta da alteração de humor da fase maníaca. Na bipolaridade de tipo 2 a pessoa passa décadas com alteração de humor na fase depressiva e também na fase em que acredita estar sem depressão, porém não atribui sintomas como irritabilidade, agressividade, impulsividade aumentada (gastar sem necessidade, libido aumentada, jogar compulsivo, mudanças excessivas de visual, bebida e outras drogas, direção perigosa e imprudente, compulsão por beleza e procedimentos estéticos, uso abusivo de calmantes, etc), excesso de atividade mental, ficar falante e acelerado, necessidade aumentada de doar e presentear, dificuldade em dormir, problemas de concentração e etc, etc, etc a uma possível fase maníaca leve e por isso a doença fica anos escondida no meio da suposta personalidade da pessoa.

    • Exagero no videogame: doença, transtorno ou dependência?

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    Na minha opinião exagero por vídeo-games é apenas um comportamento excessivo que assim como qualquer outro comportamento excessivo denotam apenas exagero e excesso de intensidade. Não podemos sair criando doenças pelo simples fato de serem comportamentos excessivos. A diferença entre comportamento excessivo e compulsivo reside no detalhe importante de que na compulsão existe um aumento de comportamento com sensação subjetiva de perda de controle, que é a obrigação compulsiva de emitir o comportamento. O que eu quis dizer na entrevista e que não me pareceu muito claro é que ao contrário de jogos de azar (poker, bingo, caça níqueis, etc) em que existe um ciclo de ganho e recompensa mais forte (dinheiro, novas moedas, bônus, etc), em jogos de videogame não há um ciclo de reforçamento tão forte como em um jogo de azar e que estes jogos precisam ser melhor estudados para em algum momento serem classificados como comportamentos compulsivos. Nenhum estudo até o momento mostrou por exemplo se a falta de videogame provoca abstinência.

    Além disso, nos últimos anos temos notado uma onda de novos ambulatórios e grupos de pesquisas que têm buscado estudar comportamentos isolados criando doenças novas a partir de coisas que sempre existiram. Por exemplo, é muito bem sabido que transtornos bipolares levam a aumento de impulsividade e comportamentos compulsivos em drogas, jogos, sexo, compras, mudanças de visual, etc. É o mesmo que pegar um sintoma isolado da depressão como a falta de vontade e querer criar uma doença isolada: transtorno das pessoas com baixa impulsividade. E é isso que tem acontecido com os ditos transtornos do controle do impulso, que na maioria esmagadora dos casos não constituem uma doença isolada mas um sintoma de outros transtornos psiquiátricos.

    • TRANSTORNOS DE HUMOR E RITMOS BIOLÓGICOS.

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    Um assunto que foi pouco estudado ao longo do tempo e que vem sendo o foco de estudos recentemente é o quanto os transtornos depressivos e bipolares são na realidade doenças dos ritmos biológicos e como áreas cerebrais como hipotálamo e o mesencéfalo (relógio biológico) na realidade comandam funções mais primitivas como temperatura, secreção de hormônios, regulação do sono, regulação do apetite mas também funções cerebrais mais complexas como humor, energia, atividade, impulsos e pensamentos.

    Esse estudo publicado esta semana na revista científica Lancet foi o primeiro estudo com adequada metodologia nesse sentido. Os pesquisadores analisaram dados de repouso e atividade utilizando um aparelho chamado acelerômetro (um tipo de relógio que é colocado no pulso e mede temperatura, umidade, luminosidade, nível de movimentação) em 91.105 participantes do banco de dados do Reino Unido. Todos os participantes usaram acelerômetros por 7 dias entre 2013 e 2015.

    O estudo observou maior nível de atividade (movimentação física) durante os períodos de descanso diurno e o risco de transtorno do humor ao longo da vida (transtorno depressivo maior, transtorno bipolar, instabilidade do humor de outra natureza), isto é, maior agitação está associado com transtornos de humor. O problema do estudo é que não há como diferenciar se ter distúrbio de ritmos biológicos causa transtorno de humor ou se os transtornos de humor alteram os ritmos biológicos, esta dúvida permanece obscura.

    Sabemos que existe distúrbio do ritmo circadiano:

    – Depressão maior: distúrbio do sono terminal (a pessoa acorda no fim da madrugada e não consegue mais voltar a dormir).

    – Transtorno bipolar: inversão do ritmo do sono (dificuldade de funcionar pela manhã e dificuldade de dormir cedo), maior nível de atividade noturna, mais dificuldade de organizar as rotinas (come em horários desorganizados, faz as atividades em horários caóticos, não tem planejamento, etc)

    • O mito do transtorno de personalidade borderline!

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    Algumas doenças psiquiátricas são tão mal compreendidas que com o tempo vão perdendo o sentido original e isso tem acontecido recentemente com o transtorno borderline de personalidade (TPB) que tem sido excessivamente diagnosticado por falhas na sua real identificação.

    SINTOMAS ESSENCIAIS DO TPB:

    1) Estabelecimento de vínculos problemáticos. Não lidam bem com a perda e lançam mão de esforços desesperados para evitar o abandono real ou imaginado. Qualquer fim ou separação (namoro, casamento, amizade, emprego) pode deflagrar uma crise em que a pessoa interpreta o afastamento como sinal de rejeição e fica obstinada em não deixar o outro partir.

    2) Relacionamentos instáveis caracterizados pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização, que é o típico “tudo ou nada”, “amo ou odeio”. O outro tem que ser perfeito e se errar, passa a ser depreciado. Assim, ao recusar um pedido o “melhor psiquiatra do mundo” se transforma em “lixo”. Também é comum a pessoa ficar íntima rapidamente de alguém, alimentar um monte de expectativas e, logo depois, cair em frustração e passar a odiar o outro.

    Estes dois sintomas ocorrem em todos os portadores de transtorno de personalidade e são necessários e primordiais para o diagnóstico.

    SINTOMAS SECUNDÁRIOS:

    1) Mudanças rápidas de humor
    2) Aumento de impulsividade como beber ou trair;
    3) Sensação de vazio;
    4) Ideias de suicídio recorrentes;
    5) Automutilação;
    6) Explosões de raiva, ira e agressividade;
    7) Perda do contato com a realidade.

    Esta segunda classe de sintomas não é exclusiva do TPB mas podem ocorrer quando são secundários a uma situação que envolva um relacionamento interpessoal problemático com medo do abandono e de se sentir rejeitado. Além disso, pra ser um TPB estes sintomas ocorrem desde o início da adolescência até a idade adulta, é um jeito da personalidade se estruturar.

    É importante deixar todas estas questões claras porque uma pessoa não se torna borderline durante uma fase depressiva ou apenas durante um período da vida. Oscilações de humor rápidas (no mesmo dia), mistas (com raiva, ódio e agressividade), aumento de impulsividade (excesso de gastos, drogas, jogos, sexo, etc); tentativas de suicídio e automutilação podem e ocorrem
    em elevada intensidade em pessoas que estejam com algum transtorno de humor. Quando estes sintomas ocorrem no TPB possuem uma relação direta com os sintomas essenciais relacionados ao vínculo com o outro e com algum rompimento afetivo!

    Dica de filme: Atração Fatal (Disponível em Netflix).

    • A diferença entre maternidade e maternagem!

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    A semana do dia das mães é uma data muito oportuna para falarmos da importância da maternagem na prevenção de transtornos cerebrais psiquiátricos. Ser mãe é muito mais do que simplesmente dar à luz e exercer a maternidade, mas infelizmente nem todas as mães quando dão à luz estão emocionalmente bem para exercer aquilo que cientificamente foi denominado de “maternagem”. A maternagem é algo bem mais trabalhoso e exige estabilidade de humor para tal. Na natureza vemos como no vídeo da minha cachorrinha o que é uma maternagem amorosa, calma, dedicada e afetiva. A mãe emocionalmente estável consegue olhar nos olhos, abraçar, aquecer, dar carinho e sorrir para a prole. A prole em desenvolvimento, por sua vez, quando recebe estes estímulos de maternagem ativam áreas emocionais que serão importantes para quando no futuro precisarem lidar adequadamente com emoções positivas ou negativas.

    A estabilidade da mãe na gestação, amamentação e nos primeiros anos de vida de uma criança são muito importantes para a estabilidade emocional da criança quando se tornar adulta. Muitas mães não são alertadas que estarem estressadas, deprimidas, irritadas, frias e insensíveis no período do pós-parto e nos anos iniciais de criação da prole pode afetar seus filhos profundamente!

    Vamos neste dia agradecer às nossas mães que puderam nos dar afeto e carinho quando éramos crianças. E àquelas que não estiverem bem precisam ser acolhidas e auxiliadas. Nenhuma mãe é biologicamente agressiva com a prole sem estar doente. Elas precisam de ajuda!

    Fonte: Improving maternal perinatal mental health: integrated care for all women versus screening for depression.
    Laios L, et al. Australas Psychiatry. 2013.

    • Dia 30 de Março – Dia Mundial do Transtorno Bipolar.

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    Quando se fala em depressão a maior parte das pessoas conhece a doença e aceita que trata-se de uma doença médica e que qualquer um pode apresentar o quadro em algum momento da vida. Entretanto, quando o assunto é transtorno bipolar ou bipolaridade existe sempre um preconceito atrelado ao quadro e a maior parte das pessoas quando questionadas responderam que não acreditam que possam ter um dia algum tipo de transtorno bipolar!

    De antemão é preciso esclarecer que nenhuma pessoa está imune em ter depressão ou transtorno bipolar. Ambas as doenças possuem um risco alto na população (20% para depressão, 8% para bipolaridade depressiva – tipo II, 1% para bipolaridade maníaca – tipo I). Esse preconceito com a bipolaridade ocorre porque a bipolaridade tipo I (mais rara) foi e continua sendo atrelada em livros, filmes e no imaginário coletivo de maneira geral à “loucura”, “delírios”, “alucinações”, “internação psiquiátrica” e um conjunto de outras ideias que assusta muito e que leva as pessoas a quererem se afastar e ficarem longe desta situação. A doença bipolar de tipo I (maníaca) de fato é bem rara e possui uma carga genética muito elevada (um parente de primeiro grau também acometido) mas as outras formas de bipolaridade apesar de serem muito mais frequentes são super silenciosas e normalmente ficam escondidas por outros comportamentos mais comumente presentes entre as pessoas (ex: compulsão por gastos, dependência de álcool e outras substâncias, compulsão sexual, agressividade, ansiedade, déficit de atenção, distúrbios do sono, trocas constantes de emprego e relacionamento, etc).

    O que a maior parte das pessoas não sabe é que a forma mais comum de transtorno bipolar não é a forma maníaca da doença, mas sim a forma depressiva, chamada de transtorno bipolar de tipo II e que em estudos populacionais de longa duração foi de 5 a 10 vezes mais comum do que a bipolaridade maníaca (tipo I). O transtorno bipolar tipo II é uma doença que demora cerca de 10 a 14 anos para um correto diagnóstico, pois normalmente se apresenta inicialmente como quadros depressivos que não respondem adequadamente ao tratamento com antidepressivos e que costumam recidivar de tempos em tempos, geralmente frente a situações de estresse de vida. Esta forma predominantemente depressiva de doença bipolar sofre de atraso diagnóstico porque após melhorar as fases de depressão a pessoa permanece com sintomas do polo eufórico da doença, mas como são em pequena intensidade e podem melhorar o desempenho do portador em algumas esferas, acabam não sendo identificadas e o diagnóstico permanece como de depressão recorrente. O que muitos pacientes não sabem é que a presença de sintomas de ativação leves contribuem para a próxima depressão que virá logo em seguida. A doença é como uma lâmpada que passa alguns momentos muito acessa (fases de euforia leves) e em seguida por momentos desligada (fases depressivas) para recuperar o que consumiu nos momentos de muito energia.

    Dessa maneira, qualquer pessoa com depressão de longa evolução ou depressão de múltiplos episódios precisa ser investigada quanto a uma forma depressiva de transtorno bipolar. Essa doença pode estar mais perto de nós do que imaginamos. Esse é o tipo de bipolaridade que a pessoa nunca imagina que tem, porque no imaginário coletivo para ser bipolar é preciso ter tido exageros, euforia, internação psiquiátrica, delírios, alucinações, entretanto pouco se divulga ainda hoje em dia que este tipo de bipolaridade não tem nada disso, mas predominantemente depressão com elevada refratariedade ao tratamento. A doença bipolar não escolhe idade, sexo, raça, orientação sexual, profissão, nível sócio-econômico. As pessoas de maior sucesso e destaque também podem ser portadoras de uma forma de transtorno bipolar.

    Abaixo citamos algumas personalidades cujas biografias identificam sintomas de uma doença bipolar de tipo I:

    – Artes: Vincent Van Gogh.

    – Ciência: Platão e Isaac Newtoon.

    – Cinema: Robin Williams, Jim Carrey, Marilyn Monroe e Elizabeth Taylor.

    – Literatura: Agatha Christie, Virginia Woolf, Ernest Hemingway, Edgar Allan Poe, Fernando Pessoa.

    – Música: Cazuza, Axl Rose (vocalista do Guns n’ Roses), Kurt Cobain (ex-vocalista do Nirvana), Elvis Presley, Janis Joplin e Jimmy Hendrix. Na música erudita, Tchaikosvky, Mozart.

    – Política: Winston Churchill, Abraham Lincoln e Ulysses Guimarães.

    FONTE: LARA, Diogo. Temperamento forte e bipolaridade: dominando os altos e baixos do humor. In: Temperamento forte e bipolaridade: dominando os altos e baixos do humor. 2009.

    Fotos: Van Gohh, Isaac Newton, Robin Williams, Agatha Christie, Cazuza e Ulysses Guimarães.

    • O que é um temperamento depressivo?

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    O temperamento é a faixa de vibração mais comum em que o estado de humor da pessoa permanece ao longo dos dias de sua vida. Pessoa de temperamento forte tendem a ser mais extrovertidas e calorosas ao passo que pessoas de temperamento brando são mais introvertidas e tímidas. Os indivíduos costumam ser uma mistura de vários traços de temperamento (forte+brando), porém existe uma tendência a um tipo principal de temperamento em cada pessoa que conhecemos. Entre os temperamentos ditos “brandos” são descritos dois tipos mais comuns: depressivo (humor mais baixo e sintomas ansiosos) e o irritável (humor de irritação e insatisfação). Hoje vamos falar sobre as pessoas com temperamento depressivo!

    Pessoas com temperamento depressivo tendem a se isolar mais do mundo e serem mais tímidas que a média das pessoas. Normalmente apresentam preferência pelos bastidores. Ser de temperamento depressivo não é um defeito e não quer dizer que a pessoas tenha ou venha a ter depressão. Em indivíduos com temperamento brando depressivo existe a predominância de características de duas esferas principais:

    (a) INTROVERSÃO: – fechados
    – introspectivos
    – inibidos
    – passivos
    – tímidos
    – calmos
    – lentos
    – pessimistas
    – céticos

    (b) INSEGURANÇA: – cautelosos
    – inseguros
    – tendência a duvidar bastante
    – indecisos
    – preocupados
    – medrosos
    – obsessivos
    – perfeccionistas

    O temperamento brando depressivo é super importante numa sociedade pois é com pessoas assim que as culturas e sociedades caminham com mais estabilidade e estruturas mais estáveis. Pessoas mais tímidas e introvertidas costumam ser também muito interessantes, mas para acessa-las pode ser às vezes mais trabalhoso e levar tempo!

    • O que é um temperamento ciclotímico ou instável?

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    Entre os temperamentos ditos “fortes” são descritos dois tipos mais comuns: hipertímico (humor elevado) e o ciclotímico (humor oscilante). Hoje vamos falar sobre as pessoas ciclotímicas.Pessoas com este temperamento tendem a apresentar elevada instabilidade:

    – Humor: períodos de elevada auto-estima x períodos de muito baixa auto-estima; momentos sem planos x momentos de muitos planos e atividades; fases de humor intensamente apático x fases de muita empolgação e humor eufórico;

    – Níveis de energia: momentos em que realiza muitas atividades sem se cansar e em outros excesso de fadiga e preguiça;

    – Pensamento: oscilação entre momentos em que sente o pensamento lento e difícil x momentos de elevada rapidez mental e perspicácia;

    – Fala: períodos longos em que apresentam-se mais calados e em outros muito falantes;

    – Sono: excesso de sono x pouco sono.

    Pessoas com temperamento ciclotímico costumam mudar muito de vida, de humor, de ideias, mudanças constantes de empregos, variações constantes de gostos e estilos, variações na sexualidade. Apresentam por isso alta instabilidade social e profissional pois vivem constantemente se apaixonando e se entediando muito rápido por coisas e pessoas. São conhecidas por serem “de lua”, “bipolares”, “difíceis”, “complicadas”. Uma música que ficou consagrada por descrever uma pessoa de temperamento ciclotímico foi:

    Mulher de Fases – Raimundos, 1999.

    Que mulher ruim, jogou minhas coisas fora.
    Disse que em sua cama eu não deito mais não.
    A casa é minha, você que vá embora.
    Já pra saia da sua mãe e deixa meu colchão.
    Ela é pró na arte de pentelhar e aziar, é campeã do mundo.
    A raiva era tanta que eu nem reparei que a lua diminuía.
    A doida tá me beijando há horas, disse que se for sem eu não quer viver mais não. Me diz, Deus, o que é que eu faço agora? Se me olhando desse jeito ela me tem na mão. Meu filho aguenta, quem mandou você gostar dessa mulher de fases?
    Complicada e perfeitinha, você me apareceu.
    Era tudo que eu queria, estrela da sorte.
    Quando a noite ela surgia, meu bem você cresceu.
    Meu namoro é na folhinha, mulher de fases!

    • O que é um temperamento hipertímico ou extrovertido?

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    O temperamento é a faixa de vibração mais comum em que o estado de humor da pessoa permanece ao longo dos dias de sua vida. Pessoa de temperamento forte tendem a ser mais extrovertidas e calorosas ao passo que pessoas de temperamento brando são mais introvertidas e tímidas. Os indivíduos costumam ser uma mistura de vários traços de temperamento (forte+brando), porém existe uma tendência a um tipo principal de temperamento em cada pessoa que conhecemos. Entre os temperamentos ditos “fortes” são descritos dois tipos mais comuns: hipertímico (humor elevado) e o ciclotímico (humor oscilante). Hoje vamos falar sobre as pessoas hipertímicas.

    Pessoas com temperamento hipertímico podem ainda serem subdivididas em alguns subgrupos:

    (a) EXTROVERTIDOS: – brincalhões
    – engraçados
    – extravagantes
    – muito otimistas
    – intensos
    – criativos
    – dramáticos

    Pessoas com temperamento intensamente polarizado para este subtipo tendem a buscam atividades favorecidas por este tipo de temperamento a exemplo de artistas, humoristas, cantores, publicitários, desenhistas, escritores, pintores, escultores, arquitetos, etc.

    (b) DOMINADORES: – líderes
    – ativos
    – competitivos
    – destemidos
    – desinibidos
    – impulsivos
    – tiranos e sociopatas

    Pessoas com temperamento intensamente polarizado para este subtipo tendem a buscar atividades em que a lideranças e a proatividade sejam favorecidas como líderes políticos, líderes religiosos, professores, coordenadores, administradores, empresários, cientistas, cargos de chefia, síndicos, etc.

    (c) ENÉRGICOS: – agitados
    – fortes
    – busca intensa por adrenalina
    – exploradores
    – dinâmicos
    – curiosos

    Pessoas com temperamento intensamente polarizado para este subtipo tendem a buscar atividades em que o excessivo de energia e o elevado dinamismo predominam como esportes, lutas, trabalho braçal, atividades que exijam
    pioneirismo e coragem, etc.

    • O que é a personalidade?

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    A personalidade é o conjunto de características de comportamento, pensamento e humor que nos define. Didaticamente divide-se a personalidade em dois componentes: o temperamento e o caráter.

    O temperamento é o estado de humor basal que define a pessoa, é o quanto a pessoa tem normalmente um humor mais extrovertido ou introvertido, é o tempero de cada um de nós. O temperamento é determinado geneticamente, a pessoa nasce com ele e geralmente herda mais traços do estado de humor do pai ou da mãe. O temperamento é o “calor emocional” de uma pessoa, o quanto ela é mais quente ou mais morna. Este componente da personalidade se modifica pouco ao longo da vida e confere uma predisposição a como a pessoa vai se comportar diante das situações, isto é, pessoas de temperamento mais forte tendem a serem mais ativas e destemidas e pessoas de temperamento mais brando tendem a ser mais passivas e cautelosas.

    O caráter é o conjunto de valores, significados e conceitos que uma pessoa adquire, este é totalmente aprendido. Engloba o conjunto de crenças que a pessoa internaliza e define como certos na opinião dela. Geralmente o meio em que o indivíduo vive pode determinar um “bom” caráter ou um “mau” caráter. Se a pessoa aprende que “ela pode pegar para ela coisas que é do outro”, “que não importa os outros se a sua vida e seus desejos estiverem sendo satisfeitos” ou “mentir e enganar é algo admissível” ela tenderá a se comportar a partir destes conceitos.

    A personalidade se expressa desde o parto. É possível uma mãe atenta já conseguir diferenciar o comportamento emocional (temperamento) dos seus dois filhos quando eles tinham 6 meses de vida. Ao longo dos anos além do temperamento se expressar cada vez mais inteiro, o caráter vai se constituindo a partir das experiências de vida que a pessoa tem. Embora antigamente acreditava-se que aos 18 anos a personalidade estava completamente formada, hoje sabe-se que é possível a mudança de significados e de valores (caráter) até o fim da vida. Portanto, sempre é hora de redefinir conceitos e e mudar nossos comportamentos.

    • Antidepressivos funcionam?

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    Infelizmente doenças cujos sintomas se manifestam no comportamento e em esferas subjetivas como estado de humor, níveis de energia, impulsos/vontade e pensamento sempre sofrerão descrédito e falta de crença por parte de uma parcela da população que só acredita nas doenças físicas mais visíveis e facilmente observáveis como feridas, cortes e sangramentos. Fato é que as sociedades precisam de tempo para evoluir e o conhecimento científico alcançar a grande população e modificar opiniões. Houve um tempo na História em que não se acreditava nos microorganismos como vírus e bactérias porque eles simplesmente não eram visíveis a olho nu. Eu diria que hoje, em pleno século XXI ainda existem líderes religiosos e até mesmo médicos (alguns Psiquiatras infelizmente) e até Psicólogos que não sabem e por isso não acreditam nas doenças do cérebro como depressão e bipolaridade e por isso enxergam com preconceito o uso de medicamentos como antidepressivos.

    Posto isso, é com muita satisfação que trago hoje os resultados louváveis de colegas psiquiatras de universidades do exterior que nos auxiliam neste movimento de difusão das doenças do humor e na confirmação científica dos seus tratamentos. Este estudo foi publicado agora na revista de alto impacto Lancet.

    Trata-se de uma compilação de resultados de vários estudos já publicados sobre segurança, tolerabilidade e eficácia dos antidepressivos existentes no momento para tratar a depressão clássica (não-bipolar). O estudo incluiu 522 estudos e comparou o uso de 21 antidepressivos diferentes com aqueles pacientes que não estavam tomando nada pra tratar a depressão em mais de 116 mil pacientes. Os resultados mostraram que TODOS os antidepressivo estudados foram significativamente mais eficazes do que não tomar nada.

    Nas avaliações de antidepressivos versus antidepressivos, a maior eficácia foi encontrada para os seguintes medicamentos: agomelatina, amitriptilina, escitalopram, mirtazapina, paroxetina, venlafaxina e vortioxetina (de 1,5 a 2x mais potentes que os demais). Os menos eficazes foram fluoxetina, fluvoxamina, reboxetina e trazodona. Os que tiveram menores taxas de abandono por efeito colateral foram agomelatina, citalopram, escitalopram, fluoxetina, sertralina e vortioxetina, o que significa que eles eram os mais aceitáveis ​​para os pacientes, embora nem todos estivessem entre os que mais funcionavam. Os que mais foram associados a abandono por baixa tolerabilidade por parte dos pacientes foram amitriptilina, clomipramina, duloxetina, fluvoxamina, reboxetina e venlafaxina.

    Mas no que isso impacta para o paciente que está atrás da mesa recebendo as receitas do médico? Isso implica no fato de que um estudo que agregou 116.000 pessoas direcione para qual caminho o médico deve caminhar primeiro. Todas estas pessoas forneceram seus tratamentos para um bem maior, permitir que pessoas que forem ser tratadas no futuro tenham suas escolhas mais acertadas a partir de dados obtidos em pesquisas grandes como estas. Embora metodologias como esta sejam muito boas para agregar dados e não permitirem análises individuais de pacientes ou detalhes sobre quem pode responder preferencialmente ou quem pode ser mais vulnerável a efeitos colaterais a uma ou outra droga, elas servem para decidir, por exemplo, se em um paciente grave o médico deve escolher medicamentos com maior poder (mesmo que com mais efeitos colaterais) e se em quadros mais leves não seria o caso de escolher medicamentos com efeito mais modesto mas melhor tolerados. Estudos sobre tratamento tornam os tratamentos menos aleatórios e mais factíveis de sucesso!

    • DISFORIA PÓS-PARTO

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    Venho aqui hoje falar sobre alterações de humor associadas a mudanças hormonais. Todo mundo lembra e fala muito na depressão pós-parto e na depressão pré-menstrual da TPM mas ninguém comenta muito e mesmo os manuais diagnósticos da psiquiatria renegam oscilações de humor da esfera da disforia ou agressividade.

    A disforia é uma oscilação cerebral de áreas relacionadas ao humor, energia em impulsos em que a pessoa passa a apresentar um estado misto de agitação mental e física, inquietação, aumento de impulsividade e humor agressivo. O resultado disso é aquela pessoa que está estressada, pavio-curto, sem paciência com os outros, intolerante, agitada, agressiva e reativa ao meio. Muitas vezes os companheiros e familiares acham que a pessoa está cansada, estressada e sem paciência apenas mas em casos muito intensos e persistentes, a pessoa e os familiares devem estar atentos para um distúrbio de humor disfórico que pode ser tratado apenas com medidas comportamentais (sono adequado, alimentação no horário certo e rotina corrigida) e em alguns casos mais intensos com estabilizadores de humor.

    • A depressão é uma doença como outra qualquer!

    (Texto de Mônica Raoulf)

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    A depressão é uma doença como outra qualquer, não dá em árvore, dá em gente, em qualquer tipo de gente!

    Deprimidos disfarçam, tentam enganar que estão bem, porque não querem dar trabalho, porque têm vergonha, se escondem.

    Deprimidos também riem, conversam, contam piadas. Sabe Deus a que preço e de onde tiram esta força, mas conseguem, só por fora. Por dentro a depressão come solta, e a pessoa se rói de angústia, numa aflição que paralisa, que inutiliza.

    As pessoas não são o que a gente imagina, nem o que a gente espera que sejam, as pessoas são o que conseguem ser.

    É preciso levantar a capa de preconceito que a gente tem com o suicídio, a ideia de que a pessoa era fraca, sem fé na vida, sem Deus no coração, frescura, ingratidão, mi mi mi. Gente, ele tem tudo! Como é que pode ter depressão? Ai, eu no lugar ia estar é bem feliz! Não, nada disso. Você no lugar dele iria estar bem infeliz também.

    Não importa o dinheiro, corpo bonito, boas parcerias, amor…. Se fosse assim depressão não dava em padres cheios de Deus no coração. Depressão dá em quem está vivo! E ninguém é menos ou pior porque está doente de depressão! E ninguém está livre de ter um dia…

    Sofre, entre outras coisas, pela solidão, pela incompreensão, pelos olhares e dedos apontados, de quem julga o que não entende. As mesmas pessoas piedosas, que amparam rapidamente quem tem câncer, jogam para o lado quem tem depressão.

    Depressão de verdade só sabem quem passou, ou quem acompanhou de perto. A depressão vai tomando conta do dia-a-dia. Dormir é difícil, acordar é pior ainda. Uma dor infinita que parece que não vai passar. A pessoa se mata pra se livrar da dor. Porque viver ficou insuportável. A impressão é de que não tem jeito, mas tem, tem terapia, tem medicação.

    Se este for o seu caso, procure ajuda, não desista. Enquanto houver esperança vale a luta!

    • A depressão é diferente em homens e mulheres.

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    Agradeço muito por viver na era científica da Psiquiatria. Quem estudou Psiquiatria ou pacientes que precisaram de tratamento até a década de 80 sofriam de algo extremamente perigoso na Ciência que é a falta de método. O que eu quero dizer com isso? Até os anos 80 os portadores de doenças cerebrais psiquiátricas eram confundidos com pessoas com problemas psicológicos estudados pela Psicologia normal e muitos sintomas deixavam de ser vistos por conta de interpretação, isto é, até esta época a avaliação na Psiquiatria era pautada na Psicanálise e tudo era analisado: “Ela tem insônia porque está preocupada”, “Ele está sem libido porque tem problemas sexuais”, “Esta criança é irritada e quebra as coisas dentro de casa porque apanha dos pais que também são agressivos”. Essa análise é extremamente perigosa porque cria um circulo vicioso onde tudo pode ser explicado e a pessoa fica sendo algoz de todos os seus comportamentos. Finalmente na década de 80 pesquisadores bateram o martelo e disseram não para isso e com estudos científicos sérios conseguiram mostrar que tem comportamentos que se agrupam não por acaso mas por fazerem parte de uma mesma doença com origem no cérebro e que leva a pessoa se comportar de um jeito ou de outro. Isso foi fantástico porque nós na Psiquiatria saímos de uma posição de juizes que julgam o comportamento dos outros definindo o que é certo e o que é errado e passamos para uma postura neutra em que o profissional simplesmente busca os sintomas visando definir se existe alguma doença ou não e se esta pessoa pode ser ajudada por remédios além da psicoterapia!

    Neste mês fomos presenteadas com mais uma bela pesquisa que de maneira isenta e objetiva confirma um achado antigo: depressões em homens e mulheres são diferentes! Este estudo canadense publicado no Journal of Psychiatric Research, reforça a importância das diferenças de gênero na depressão, revelando que as consequências da depressão na vida e na funcionalidade da pessoa também variam com relação ao sexo do paciente. Ao avaliar indivíduos com depressão clássica os autores identificaram que em homens o prejuízo funcional foi causado principalmente por ansiedade (insegurança, medo, pânico) e distúrbios do sono (insônia ou sono irregular), enquanto nas mulheres esse quadro foi consequência mais pelo humor triste e falta de energia!

    FONTE:

    https://portugues.medscape.com/verartigo/6501986

    • Teste genético indica qual o remédio certo para tratar a depressão?

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             De antemão inicio este texto dizendo que NÃO! Reportagens como estas podem ser lidas de maneira muito leviana e trazer falsa crença de solução para pessoas que sofrem há anos de quadros depressivos. Muito cuidado ao espalhar notícias que iludem e até atrapalham quem já está em um processo de tratamento há alguns anos!

    Em primeiro lugar, não existe uma única doença que se possa chamar de depressão! A depressão é uma síndrome, um conjunto de sinais e sintomas que se agrupam, assim como anemia é uma síndrome com seus sinais e sintomas agrupados (fraqueza, queda de cabelo, palidez, insônia, etc) e síndrome anêmica acontece em várias doenças: carência de ferro, sangramento uterino, leucemia, insuficiência renal, insuficiência cardíaca. Estou dizendo isso para que de uma vez por todas a mídia pare de achar que depressão é uma coisa só, depressão é uma síndrome (humor deprimido, falta de impulso, falta de energia, falta de prazer, lentificação do pensamento, lentificação da atenção, isolamento, etc) que acontece em VÁRIAS doenças:
    – transtorno depressivo maior (depressão clássica)
    – transtorno depressivo persistente (casos crônicos de depressão)
    – transtorno disfórico pré-menstrual (depressão das super-TPMs)
    – transtorno depressivo secundário à outras doenças (Parkinson, AVC, infarto, câncer,etc)
    – transtorno depressivo secundário à algumas drogas (maconha e álcool principalmente)
    – depressão do transtorno bipolar tipo I (bipolar maníaco), tipo II (bipolar depressivo), ciclotimia (temperamento forte), outros transtornos bipolares (depressões recorrentes com marcadores de bipolaridade).

    Então, o que aconteceu essa semana depois desta reportagem foi que vários pacientes desesperados (com razão!) após lerem notícias como esta vem querendo pagar a fortuna que este teste custa hoje com a fantasia de que um teste genético vai fazer o médico Psiquiatra finalmente acertar o medicamento que a pessoa tem que tomar para melhorar da depressão. É um engodo quem acredita nisso, vamos explicar:

    1- Em primeiro lugar, como em qualquer outra doença, para se acertar o tratamento em primeiro lugar precisa se acertar o diagnóstico. Nem sempre tomar o antidepressivo X ou Y vai fazer a depressão melhorar ou tomar 2,3 ou 4 antidepressivos vai fazer a pessoa eliminar todos os sintomas da depressão. Quisesse Deus que fosse assim!

    2- Quanto mais longa for a depressão e quanto menos ela estiver respondendo aos antidepressivos maior o indício de que o diagnóstico está errado e que por isso o tratamento não está dando certo. Antes de a pessoa e o médico ficarem desesperadamente buscando trocas ou combinações de medicamentos ou mesmo realizando testes genéticos que avaliam o quanto a pessoa metaboliza ou não o medicamento, pensar se o diagnóstico não precisa ser reavaliado!

    3- Naqueles indivíduos em que NÃO há dúvidas nenhuma de que o diagnóstico é de transtorno depressivo maior (é esta doença que recebe tratamento APENAS com antidepressivos) ainda assim é necessário que se avalie clinicamente se há necessidade de solicitar o exame. Isso porque a resposta do paciente leva à uma hipótese e o teste vem pra confirmar a hipótese do médico. Naqueles pacientes em que mesmo com doses bem baixinhas de antidepressivos, a pessoa sente muitos efeitos colaterais, super intensos e que não melhoram e que após algumas tentativas de tentar iniciar um novo medicamento a mesma condição clínica acontece, o teste serve para confirmar se ele é metabolizador lento do antidepressivo, isto é, se ele não consegue metabolizar a droga e ela vai se acumulando rápido na pessoa e dando efeitos adversos. Por outro lado, naqueles que vão subindo a dose inclusive acima do máximo permitido e a pessoa não sente nada de resultado e nem de efeitos colaterais, estes podem ser metabolizadores rápidos de antidepressivos, mal a droga entra na pessoa e o corpo já a destrói e por isso a pessoa não melhora.

    Mas agora vejam, casos em que:

    1) A pessoa toma antidepressivos que funcionaram por um tempo e depois perdem o efeito;
    2) A pessoa sente altos e baixos, isto é, períodos em que está bem e depois volta a ficar mal;
    3) As depressão são bem longas, décadas de história, quase parte da vida do indivíduo;
    4) Depressões resistentes a tratamento, muitos anos de tratamento trocados e todas sem resposta.

    Todos devem antes serem investigados para uma doença muito silenciosa, que ninguém acha que tem e que ninguém nunca quer ter, a bipolaridade, termo que nada mais significa um cérebro semelhante a um coração com arritmias, que ora funcionam devagar (depressão) e ora funcionam bem (ativação), explicando o porquê de tantos altos e baixos. Nestes casos, o tratamento requer outras classes de medicamentos como estabilizadores de humor, anti-convulsivantes e/ou antipsicóticos e os antidepressivos sempre que forem ser utilizados que sejam associados a estes outros “medicamentos protetores”. Pagar uma fortuna por um teste genético só trará mais uma ilusão transitória de que finalmente se encontrou a resposta para dali alguns meses descobrir que tudo está de volta, infelizmente…

    • Mas afinal de contas, qual o termo correto: transtorno afetivo bipolar ou transtorno bipolar do humor ou doença bipolar ou doença maníaco-depressiva ou psicose maniaco-depressiva ou transtornos do espectro bipolar?

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    Todos esses nomes foram e ainda continuam sendo usados para definir os TRANSTORNOS BIPOLARES (sim com S no final, porque são vários subtipos). Hoje em dia o termo autorizado nos artigos científicos é TRANSTORNO BIPOLAR (bipolar disorder) ou DOENÇA BIPOLAR (bipolar disease).

    Não se utiliza mais os termos transtorno afetivo bipolar ou transtorno bipolar do humor porque a doença bipolar não é um transtorno apenas da afetividade (termo que compreende várias funções cerebrais como sentimentos, emoções e humor) mas em várias outras áreas do cérebro. Trata-se de uma doença física, cerebral, embora com repercussões importantes em esferas psicológicas, sociais e culturais (como toda doença médica, a hipertensão também implica nisso, embora em menor grau que uma doença psiquiátrica).

    São áreas cerebrais afetadas na doença:

    – área límbica: área da afetividade;
    – áreas de energia;
    – áreas dos ritmos biologicos: dormir x acordar, fome x falta de apetite, pouca libido x muita libido;
    – áreas do pensamento: pouco pensar ou pensar exagerado)
    – áreas dos impulsos: impulsividade/vontade/ação aumentados X procrastinação);
    – áreas da movimentação: lentidão x agitação

    A doença bipolar caracteriza-se por alguma desregulação para mais e para menos em todas ou na maioria destas áreas cerebrais cotadas. É como se fosse um indivíduo hipertenso que ora tem hipertensão e ora tem hipotensão. Aqui o indivíduo ora tem lentificação cerebral (termo técnico depressão) e ora tem aceleração do cérebro (com os termos técnicos de mania e hipomania). Ao contrário do que as pessoas pensam, é uma doença predominantemente depressiva, se engana quem pensa o oposto. Existem vários transtornos bipolares e estes subtipos são classificados de acordo com a gravidade da fase agitada, porque todos tem depressão em grande quantidade.

    O componente da afetividadade que de fato é levado em consideração para o diagnóstico é o humor, que por sua vez constitui um estado afetivo analisado em dois pontos no tempo (você pode avaliar humor em um mês mas pode avaliá-lo em uma consulta). Para fins de diagnóstico o mais seguro é avaliar o humor nas últimas 2 semanas pelo menos, porque podemos errar vendo uma pessoa com sentimentos positivos na consulta mas ao longo de toda a semana ela esteve mal ou o oposto, vê-la muito mal na consulta mas ela não esteve tão mal assim ao longo de todos os dias das últimas semanas). Embora sentimentos sejam componentes normais de nossa vida, mesmo negativos (tristeza, medo, raiva, ciúme, inveja, etc) nos transtornos de humor os sentimentos são patológicos e ocorrem de maneira intensa, muitas vezes sem motivo, aparecem independente da vontade da pessoa e voltam à mente mesmo a pessoa tentando bloquear. Quando o humor está alterado os sentimentos ficam também alterados de maneira doentia e na avaliação longitudinal é possível observar um humor patológico quando predominam sentimentos patológicos ao longo da maior parte do tempo. Costumo brincar que o humor é como uma estação do ano, com estados climáticos que os definem (o inverno se fosse um humor deprimido possui dias mais frios que seriam os sentimentos negativos).

    • Depressão resistente a tratamento: quando você acha que se livrou da depressão, mas não, ela está de volta!

    kjnj .jpgQuando uma depressão pode não melhorar e voltar?

    1) Quando a pessoa tratou errado.

    A maior parte dos tratamentos que as pessoas fazem para depressão são incompletos. Tratamentos corretos sobem a dose até “matar” a depressão e precisam ser tomados por 1 ano depois que a pessoa se recuperou totalmente para que o risco de retorno dos sintomas seja inexistente.

    – Exemplo 1: Carolina tomou 1 comprimido do antidepressivo e melhorou 50 a 70 % da depressão. Sua mãe com medo que ela “viciasse” no antidepressivo a assustou e ela não aumentou a dose como solicitado pelo médico. Resultado: em 2 meses ela volta a piorar e agora diz que o remédio não funcionou! Quando se trata de infecção urinária ou pneumonia ninguém pensa assim, mas muita gente que vive a depressão na pele sabe que o sofrimento é físico e grande mas na hora de tratar tem preconceito e quer “pegar leve”….

    – Exemplo 2: Mariana tomou 1 comprimido e melhorou 70% da depressão, ajustou a dose e com 2 comprimidos ficou 100% igual ao que era antes em termos de humor, energia e vontade. Após 3 meses bem, parou de tomar o remédio porque foi viajar. Resultado: em 3 meses ela voltou a piorar e diz que o remédio não funcionou! Quando se trata de um remédio para evitar um infarto ninguém age deste jeito!

    2) Quando a depressão tem características mistas (agitação na depressão).

    Algumas depressões requerem doses baixas de antidepressivos e muitas vezes podem piorar com o aumento do antidepressivo. Toda vez que a pessoa notar sintomas como irritabilidade, dificuldade para dormir, dificuldade para desligar a mente, aumento da impulsividade (abusar de calmante, beber ou fumar para aliviar a depressão, etc), piora da angústia ou do desespero com o ajuste do remédio, pode-se tratar na realidade de uma depressão que não vai melhorar apenas com antidepressivos mas que requeira estabilizadores do humor.

    3) Quando a depressão oscila (bipolaridade).

    Algumas pessoas melhoram completamente da depressão e ficam alguns períodos de tempo assim e depois voltam a piorar mesmo usando o antidepressivo corretamente como indicado pelo médico. Neste período de melhora algumas destas pessoas chegam a ficar aceleradas e agitadas e depois voltam a descarregar a pilha como se o filamento da lâmpada que esquentou muito se apagasse. Esses casos precisam ser avaliados também para a presença de bipolaridade e a necessidade de estabilizadores de humor junto com o antidepressivo.

    4) Depressões realmente resistentes que não melhoram com nada.

    Nestes casos, muitas vezes, tratamentos não medicamentosos como a eletroconvulsoterapia (ECT-antigo eletrochoque) podem ser milagrosos e melhorar aquilo que os remédios não melhoraram. A maioria das depressões com bipolaridade acabam assim, bastante resistentes. Muito porque a pessoa oscila por anos em períodos de melhora e piora mas muitas vezes toleráveis. Quando a coisa aperta e a pessoa passa a ter prejuízos maiores aí ela busca ajuda, mas aí a depressão já ganhou força!

    • Carga Alostática: quando a proteção gera lesão.

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    No campo das Neurociências chamamos de reação alostática quando um organismo se prepara para responder ao estresse que o ambiente impõe a ele. É necessário que todo organismo esteja o tempo todo produzindo reações alostáticas em vários órgãos para que o corpo não sucumba à doença facilmente. No entanto, o estresse crônico pode transformar uma reação alostática, que é normal e esperada, naquilo que chamamos de carga alostática. Uma reação ao estresse, mesmo bem ajustada, quando acionada por muito tempo e repetidas vezes pode ser danosa porque o corpo se ativa de maneira a se defender mas perde o controle sobre como realizar esta defesa e acaba produzindo lesão ao próprio organismo.

    O estresse crônico pode causar doenças porque força os órgãos (coração, cérebro, sistema imunológico, pâncreas, rins, etc). No caso de doenças cardíacas isso pode ser explicado pelo seguinte: diante de um estressor agudo a pessoa se prepara fisiologicamente para uma reação de luta ou fuga e acaba liberando na corrente sanguínea hormônios como a adrenalina que faz com que o coração se acelere e a pessoa fuja; porém, se ocorre estresse crônico, um mecanismo saudável e desejado pode prejudicar o funcionamento do coração porque a adrenalina durante muito tempo no sangue pode danificar os vasos sanguíneos produzindo aterosclerose (entupimento das artérias).

    No caso de doenças cerebrais psiquiátricas o mecanismo é semelhante mas estressores para o cérebro são fatores comportamentais e psicológicos nocivos. Em estudos experimentais foi observado que animais expostos a situações novas de enfrentamento que exigiam adaptação acabaram apresentando depois de um tempo comportamentos agressivos devido a carga alostática resultante da ativação excessiva do sistema nervoso central.
    Experimentos em humanos também demonstraram o mesmo mecanismo em que indivíduos diante de mudanças políticas e organizacionais do seu contexto social que eram considerados agentes estressores contínuos passavam a apresentar várias manifestações orgânicas negativas como hipertensão, ganho de peso, insônia, elevação do colesterol e maior incidência de acidentes vasculares cerebrais.

    A vida e a saúde ficam comprometidas quando submetidas a um estado de instabilidade. Estresse provoca a diminuição da resistência à doença, pois quando se está sujeito ao estresse contínuo o sistema imunológico fica temporariamente inativo, em decorrência da demanda constante e do seu desgaste, e o sistema cardiovascular fica intensamente ativado. Em alguns indivíduos com incapacidade de adaptação, a reação inadequada ao estresse pode se manter ativa, mesmo quando uma situação deixa de ser estressora, ou seja, mesmo em uma situação trivial, o esquema orgânico natural de luta ou fuga continua em ação, ligado, lesando o próprio organismo. Esses indivíduos, podem permanecer expostos aos efeitos do estresse físico diante de eventos que outras pessoas não considerariam estressantes. O corpo desaprende a definir o que é estresse e o que não é e passa a ficar continuamente ligado no modo defesa. Logo, mesmo com o termino do estresse o sistema não consegue recobrar-se e voltar a linha de base. É como se o sistema não ouvisse o sinal de fim de alarme. Todas essas condições estão relacionadas à exposição excessiva dos hormônios do estresse (adrenalina, cortisona e glucagom) pela incapacidade de acomodação do sistema a algo que não é mais estressante ou mesmo pela impossibilidade da suspensão de tal funcionamento. O excesso desses hormônios pode comprometer estruturas cerebrais como hipocampo e amígdala enfraquecendo a capacidade de distinguir aquilo que é de fato estressante, além de impedir a suspensão da reação a ele.

    Doenças associadas à superprodução de cortisona:
    – Síndrome de Cushing;
    – Depressão melancólica;
    – Diabetes;
    – Insônia;
    – Anorexia nervosa;
    – Exercício excessivo;
    – Transtorno obsessivo-compulsivo;
    – Transtorno do pânico;
    – Alcoolismo;
    – Abuso físico e sexual na infância;
    – Doenças intestinais;
    – Hipertireoidismo.

    A carga alostática não está ligada apenas a experiência do estresse, ela também reflete nosso estilo de vida e o modo como enfrentamos o dia-a-dia, uma vez que escolhas ruins podem contribuir para o surgimento de doenças relacionadas com o estresse. Por isso o aprendizado psicológico é importante no contexto do surgimento de doenças psiquiátricas. Já atividades que ajudam a contrabalancear o estresse ao nosso favor, por exemplo, atividades físicas (quando prazerosas), exercício da espiritualidade ou qualquer atividade que promova bem-estar, pode reduzir os efeitos negativos do estresse.

    Fontes: Estresse: temas de psiconeuroendocrinologia (Gonzalez, M.A.A); Estresse: Revisão narrativa da evolução conceitual, perspetivas teóricas e metodológicas (Faro, A; Pereira, M. E);

    • Como o ciclo natural do organismo é sensibilizado com a troca de rotina no horário de verão.

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    Os vencedores do prêmio Nobel de medicina deste ano foram premiados por conta de importantes descobertas que realizaram a respeito do nosso ciclo circadiano ou relógio biológico. Segundo a descoberta, existem genes chamados de “clock” que regulam todos os ritmos do nosso organismo:

    – dormir x acordar
    – fome x saciedade
    – disposição x cansaço
    – crescimento
    – humor
    – vontade e disposição
    – concentração
    – libido
    – menstruação
    – sensibilidade à dor

    Esse relógio biológico que coordena a produção de vários hormônios em nosso corpo é influenciado diretamente pela luz do sol que permite ao corpo se regular e saber se é dia ou noite, se é hora de comer, se exercitar ou descansar. A alteração do horário de verão provoca mudanças abruptas no ciclo circadiano, levando o corpo todo a precisar se reajustar para a nova rotina. É por isso que muita gente apresenta dificuldades para dormir e não consegue despertar com facilidade se sentindo mais cansada e com o corpo pesado nos primeiros dias em um novo fuso. Mas não só isso, podem ocorrer por conta de toda esta mudança maior ganho de peso por aumento de apetite, dificuldade de fazer exercícios, dificuldade de se concentrar, mudanças de humor, desregulação de menstruação entre várias outras instabilidades no organismo.

    Se para indivíduos sem doenças cerebrais psiquiátricas já é difícil, imagina para quem apresenta transtornos diretamente relacionados a este ciclo. Transtornos de humor como depressão e bipolaridade são diretamente influenciados pelo relógio biológico porque humor, energia e vontade, que estão alterados nestes transtornos, são produzidos por áreas cerebrais que trabalham em conjunto e é muito comum em indivíduos deprimidos percebermos quebra nesta rotina e muitas vezes a pessoa com depressão não sabe que sair do ritmo que tinha antes, de comer, dormir, se exercitar contribui ainda mais para a depressão se agravar. Por mais que seja difícil para quem está em depressão fazer o que sempre fazia antes, sempre orientamos a pessoa a tentar manter o ritmo prévio porque isso freia o avanço da doença. Se a pessoa se entregar e interromper todas as atividades, ir dormir muito tarde e acordar no meio do dia vai ficar bem mais difícil ressincronizar o cérebro e o humor melhorar. Por isso a depressão é uma doença que requer além do tratamento medicamentoso uma batalha muito grande do indivíduo, justamente pelo fato de os sintomas da doença contribuírem para ela se agravar, a pessoa com depressão perde a vontade e disposição para tudo, interrompe atividades, para de comer ou come mais do que comia antes, dorme em horários diferentes, tudo isso contribui para desregular ainda mais o sistema nervoso.

    A maior parte das pessoas consegue se adaptar a mudanças no ambiente e em até 3 semanas o corpo se reorganiza para o novo horário. Mas naquelas pessoas com transtornos de humor prévios esse tipo de mudança pode ser bem mais agressivo e sabendo disso o indivíduo precisa se forçar para vencer a quebra do ritmo pois assim evitará que os sintomas se acentuem.

    • CAUSAS DE DÉFICIT DE ATENÇÃO

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    Sempre que falamos em déficit de atenção vem imediatamente à cabeça o transtorno do déficit de atenção (TDAH). Entretanto, o que pouco se fala é que déficit de atenção em pessoas adultas geralmente possui outras causas e raramente são casos de TDAH. Isso porque o TDAH é um transtorno do desenvolvimento do cérebro da criança em que ocorrem defeitos na regulação da atenção e geralmente trata-se de um quadro que evolui satisfatoriamente com o envelhecimento e a maioria dos casos desaparece na vida adulta.

    No adulto geralmente déficit de atenção é causado por outras doenças como ansiedade e bipolaridade, doenças estas que inclusive podem piorar com os tratamentos convencionais para TDAH.

    Desatenção nos transtornos ansiosos

    Indivíduos ansiosos apresentam alto grau de insegurança, medo e preocupação no pensamento. Vivem alertas e preparados para o pior que está por vir. Fisicamente apresentam aumento de adrenalina e taquicardia, sudorese, tremor e mal-estar no abdome. Pacientes ansiosos podem apresentar desatenção devido ao fato de o cérebro estar intensamente preocupado e hipervigilante. É como um alarme interno tocando o tempo todo dificultando que a pessoa relaxe e se concentre em outras atividades.

    Desatenção na bipolaridade

    Pessoas com bipolaridade apresentam desregulação nos níveis de funcionamento cerebral com períodos de menor funcionamento (depressão, falta de energia, falta de vontade, lentificação mental e desatenção por dificuldade de concentração) e períodos de maior funcionamento (euforia ou agressividade, aumento de impulsividade, aumento de energia, agitação mental e desatenção por distraibilidade). Como podemos observar, tanto nas fases depressivas quanto nas fases agitadas da doença existe alteração da atenção, na primeira falta foco atencional e na segunda pelo fato de o cérebro estar acelerado e pensando muito. Bipolaridade ocorre em graus muito variados. O quadro clássico da pessoa fora de si, internada e com comportamentos hiper exagerados é uma raridade. O mais comum são quadros leves em que ocorre oscilação de humor e comportamento para períodos de menor produtividade e períodos de excessos e agitação (compulsão sexual, compulsão por gastos, descontrole alimentar, excesso de exercícios, excesso de cirurgias plásticas, tatuagens excessivas, ciúme e obsessão descontrolada, etc). É muito comum a população leiga confundir pessoas que são do espectro bipolar (agitadas e com algum grau de oscilação de humor) com ansiedade, inclusive muitos se acham “ansiosos” quando na verdade são impulsivos e agitados e portanto do espectro da bipolaridade e não da ansiedade!

    Portanto, muito cuidado ao buscar escalas auto-aplicáveis na internet em que a própria pessoa identifica os sintomas e existe uma sugestão de diagnóstico. Isso porque raramente será TDAH e muito provavelmente se tratará de outras doenças que também cursam com desatenção. Os tratamentos de TDAH são com medicamentos estimulantes do sistema nervoso central e que podem piorar a agitação da bipolaridade e a ansiedade!

    • ANTICONCEPCIONAIS CAUSAM DEPRESSÃO?

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    No ano passado as revistas destinadas ao público leigo do mundo todo noticiaram de forma sensacionalista e exagerada a notícia de que pílulas anticoncepcionais poderiam causar além de trombose e alteração na libido também depressão, a partir dos resultados do estudo publicado na Revista Americana JAMA Psychiatry (Skovlund CW et al, 2016.
    Association of hormonal contraception with depression. JAMA Psychiatry).

    Logo em seguida vários artigos científicos foram publicados evidenciando várias falhas encontradas neste estudo e também o fato de que quando um estudo científico encontra associação entre dois eventos (no caso depressão e mulheres que utilizam pílulas contraceptivas) isso não significa necessariamente causalidade (que pílulas contraceptivas causam depressão), principalmente porque estes dois eventos podem estar acontecendo devido a múltiplos outros fatores que ocorrem concomitantemente. Mulheres possuem mais depressão e apenas mulheres utilizam contraceptivos, portanto pode ocorrer uma associação ao acaso entre depressão e uso de contraceptivos simplesmente pelo fato de depressão ocorrer três vezes mais em mulheres. Além disso, o estudo tomou como resultado não o diagnóstico de depressão
    mas tratamento com antidepressivos, como substituto para o diagnóstico formal estabelecido por um psiquiatra. Isso pode ter enviesado o resultado porque não há garantia de que quem esteja utilizando antidepressivos tenha de fato depressão assim como também existe uso de antidepressivos para outras causas em Psiquiatria (ansiedade, fobias, pânico, etc). Outro resultado do estudo foi a hospitalização
    devido à depressão que se mostrou maior entre as usuárias de pílulas. Este é um problema metodológico grave em muitos estudos do tipo porque já se sabe que avaliar condições em pacientes internados pode sofrer a influencia da busca por atendimento médico. Pode muito bem ser que as mulheres que tomaram a pílula tenham mais conexão com os serviços de saúde e é por isso mais provável que elas relatem mais sintomas e que isso leve a prescrição de antidepressivos, o que enviesa a relação causal depressão e uso de anticoncepcional. Além disso, também pode ocorrer de o transtorno depressivo ser um problema já preexistente que foi diagnosticado apenas no momento em que a mulher está usando uma pílula contraceptiva oral.

    Além de todas estas limitações, a publicação desconsidera que a maior parte dos estudos prévios demonstrou o contrário, que dependendo da composição da pílula anticoncepcional (se contiver estrógenos, por exemplo) elas podem aumentar o humor e o bem-estar. Um grande estudo populacional americano (Keyes KM et al, 2013. Association of hormonal contraceptive use with reduced levels of depressive symptoms: a national study of sexually active women in the United States) indicou um efeito protetor da contracepção hormonal em relação a transtornos do humor do espectro depressivo. Estudos prévios (Wirehn AB et al, 2010. Use of hormonal contraceptives in relation to antidepressant therapy: a nationwide population-based study) (Lindberg M et al, 2012. Differences in prescription rates and odds ratios of antidepressant drugs in relation to individual hormonal contraceptives: a nationwide population-based study with age-specific analyses) já haviam encontrado uma associação positiva entre o uso de pílulas anticoncepcionais que contém apenas progesterona e maior incidência de depressão, particularmente entre adolescentes. Quanto à contracepção hormonal combinada (estrógeno + progesterona), que são a maior parte das pílulas, este resultado não foi encontrado.

    Há um conjunto grande de estudos já publicados sobre o impacto de hormônios sexuais nos neurotransmissores mais importantes do cérebro. A interação é complicada e depende não só da presença ou nível de hormônios, mas também da quantidade de receptores hormonais no cérebro. A vulnerabilidade das mulheres para hormônios esteróides endógenos tem sido muito bem estudada em pesquisas voltadas para tentar entender os mecanismos hormonais envolvidos na síndrome pré-menstrual (TPM) e no transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM). Estes estudos mostram que em mulheres vulneráveis o uso de pílulas combinadas melhora as alterações de humor ao passo que pílulas só com progesterona podem piora-las.

    • Cientistas identificaram mais uma região cerebral envolvida na depressão.

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    Após realizar exames de ressonância em mais de 900 pessoas, cientistas identificaram mais uma região no cérebro implicada com a depressão. Os novos dados, publicados recentemente na revista Brain, reforçam evidências antigas de que a depressão não é um “estado de espírito” ou “doença da alma” como se acreditava antigamente. Basicamente, os sentimentos de perda e baixa autoestima estão associados ao funcionamento do córtex órbito-frontal, uma região ligada à integração sensorial, expectativa e tomada de decisões.

    Para o psiquiatra Jianfeng Feng, da Universidade de Warwick, no Reino Unido e Universidade Fudan, na China, a conclusão é de que, a partir de uma grande combinação de dados coletados ao redor do mundo, os pesquisadores conseguiram localizar mais uma região cerebral associada à depressão, o que deve abrir novos caminhos para tratamentos terapêuticos melhores em um futuro próximo.

    Foram recrutadas 909 pessoas na China, para que os cientistas pudessem isolar os mecanismos cerebrais envolvidos. Foram realizados exames de ressonância magnética no cérebro dos voluntários. De todo o grupo, 421 deles foram diagnosticados com transtorno depressivo maior, enquanto que os 488 restantes, que não tinham a doença, participaram como grupo de controle. Os resultados dos exames mostraram que a causa está relacionada com a atividade neuronal de duas regiões diferentes do córtex órbito-frontal (OFC): OFC medial e OFC lateral. O medial é ativado no momento em que recebe recompensas, quando algo bom acontece. Por outro lado, o OFC lateral é relacionado à punição ou situações desconfortáveis. Em pessoas com depressão, os pesquisadores descobriram que ocorre uma conexão neural mais fraca entre o OFC medial e os sistemas de memória do hipocampo, isso poderia significar que as pessoas com a doença têm mais dificuldades de acessar ou recordar memórias felizes e positivas. Os exames também mostraram que elas possuem conexões neurais mais fortes ao redor do OFC lateral, relacionado com o processamento de situações como as punições. Essas mesmas conexões mais fortes também foram observadas em outras regiões, como as envolvidas no senso que temos de nós mesmos (giro angular), responsável pela recuperação da memória e atenção. Logo, isso sugere que a atividade cerebral aumentada em torno de todas essas regiões pode explicar o porquê de as pessoas em depressão reviverem mais memórias negativas do que sentirem-se bem sobre si mesmas e pela atividade reduzida do OFC lateral, torna-se mais difícil para elas processarem memórias felizes.

    Por outro lado, comparando a atividade neural de pacientes em depressão que estavam em tratamento com medicamentos com os que não tomavam, os pesquisadores verificaram que a conectividade funcional da OFC lateral era menor entre os que estavam recebendo antidepressivos. Isto sugere que os antidepressivos têm um efeito positivo em tais mecanismos.

    Pesquisas desse tipo nos ajudam a fortalecer a convicção de que a depressão é uma doença séria, que nada tem a ver com preguiça ou falha de caráter e deve ajudar em melhores métodos para combater a doença. Os tratamentos atuais, à base de medicamentos, não são completamente eficazes. Pesquisas como esta podem levar ao desenvolvimento de medicamentos personalizados que visam especificamente a região do córtex órbito-frontal e as duas sub-regiões em questão.

    Fonte: Science Alert. [Foto: Reprodução / Science Alert]

    • TRANSTORNO BIPOLAR NA VISÃO DE QUEM É PORTADOR.

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    Recentemente uma artista publicou um vídeo contando ter tido um crise de mania e ser portadora de transtorno bipolar tipo I, a forma mais intensa e clássica de bipolaridade, antigamente chamada de psicose maníaco-depressiva (PMD). Impressionante o atraso no diagnóstico da forma mais clássica e prototípica da doença, isso é um grande erro médico e ainda ocorre muito, mesmo hoje em dia. Normalmente existe um atraso de cerca de 10 anos no diagnóstico de formas atípicas, que comumente são confundidas com depressão, transtornos de personalidade e dependência química pura, não no diagnóstico da forma clássica.

    A característica clínica que marca as doenças que possuem algum grau de bipolaridade é a elevada recorrência de oscilação de humor, isto é, pessoas que passam grande parte da vida com o recidiva de fases de humor alterado, quase nunca estão se sentindo constantes e equilibrados. Nas formas mais clássicas as oscilações são intensas tanto para baixo (depressão) quanto para cima (euforia ou agressividade), mas à medida que a doença se afasta desta forma clássica vamos observar apenas oscilações intensas para baixo (depressão) e poucas oscilações para cima (impulsividade e compulsões). Alguns transtornos bipolares são compostos apenas por depressões recorrentes. Enquanto a forma clássica apresenta períodos longos em cada fase, nas formas mais atípicas as mudanças de fase podem ocorrer muito rapidamente (ciclagem rápida) e às vezes até ao mesmo tempo (estados mistos). Isto tudo dificulta o diagnóstico pois mistura muitos sintomas com elementos normais da personalidade do indivíduo.

    A forma clássica de transtorno bipolar geralmente cursa com o surto maníaco em que o paciente é internado. O diagnóstico ocorre por si mesmo. O que mais preocupa são as formas mais sutis de bipolaridade em que as alterações de comportamento muitas vezes são atribuídas à personalidade da pessoa, é visto como culpa dela e muitas vezes entendido como distorção de caráter. Por não ter acesso à informação muitas vezes a própria pessoa sofre por acreditar que é uma má pessoa, que é problemática, etc….

    Todo indivíduo que tem descontrole comportamental para excessos pode apresentar algum grau de distúrbio cerebral bipolar de energia/humor:

    – Uso abusivo de substâncias químicas (cigarro, café, álcool, cocaína, ecstasy) e/ou de medicamentos (calmantes e sedativos, analgésicos, anti-inflamatórios, relaxantes musculares);
    – Gastos compulsivos;
    – Sexo compulsivo e comportamento sexual bizarro;
    – Jogo compulsivo e endividamento;
    – Tendência a brigar, agressividade, pavio-curto e violência;
    – Mentira compulsiva e manipulação;
    – Roubar patológico compulsivo;
    – Obsessão, amor patológico e ciúme patológico;

    • Entenda a diferença entre uma doença neurológica, uma doença psiquiátrica e um transtorno psicológico!

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    Muitas pessoas ainda possuem muitas dúvidas sobre como saber se um estado emocional é de origem cerebral (psiquiátrica) ou se decorre de um conflito psicológico. O cérebro pode adoecer de duas maneiras: com doenças neurológicas e com doenças psiquiátricas.

    Doenças Neurológicas

    As doenças neurológicas são doenças que acometem partes do cérebro que desempenham funções mais ou menos “mecânicas” como movimentos do corpo, visão, equilíbrio, etc. Quando uma pessoa apresenta uma doença neurológica geralmente ocorre uma lesão que provoca uma destruição de uma parte do sistema nervoso. Por isso estas doenças podem ser diagnosticadas por meio de exames como ressonância magnética e muitas vezes deixam sequelas irreversíveis (por exemplo, um AVC ou derrame que destrói áreas de movimento e deixa uma sequela motora).

    Doenças Psiquiátricas

    As doenças psiquiátricas decorrem de alterações químicas e produzem modificação em funções dinâmicas do cérebro, isto é, funções que não são fixas mas que oscilam ao longo do mesmo dia ou entre os dias, são dinâmicas. Por exemplo, existem doenças psiquiátricas na atenção. A atenção é uma função dinâmica do cérebro, ou seja, normalmente oscila num mesmo dia, não é fixa como um movimento voluntário, é comum pela manhã a atenção estar baixa, ela se elevar ao longo do dia e voltar a cair a medida que a noite se aproxima e o sono vem. Além disso, as doenças psiquiátricas não causam lesão ou destruição do sistema nervoso (pelo menos nos primeiros anos de acometimento) e por isso não podem ser diagnosticadas por exames como uma ressonância magnética.

    Um ponto importante neste quesito é saber que as doenças psiquiátricas assim como as doenças neurológicas possuem padrões pré-estabelecidos de sintomas que constituem cada quadro clínico. Muitas vezes estes sintomas são iguais ou muito parecidos em seres humanos em várias partes do mundo, independentemente do país ou da cultura, da raça, etc.

    Transtornos psicológicos

    Transtornos psicológicos são determinados comportamentos e esquemas de pensamentos que foram sendo consolidados ao longo da vida da pessoa que trazem prejuízos para ela, mesmo que tenham sido reforçados ao longo da vida e tenham funcionado em um determinado momento, depois passam a trazer prejuízos para as relações interpessoais do indivíduo. Transtornos psicológicos são únicos, porque a história de situações vividas por cada um de nós é única e os conflitos e esquemas prejudiciais de vida que muitas pessoas constituem são únicos e decorrem da história de aprendizado que a pessoa vivenciou ao longo de sua vida. O trabalho do psicólogo e terapeuta é árduo, complexo e extremamente individualizado. Psicoterapia é arte esculpida a mão, é igual roupa feita sob medida. Um exemplo de transtorno psicológico é a pessoa que se envolve em relacionamentos sempre abusivos em que sofre agressões físicas e verbais mas mesmo assim mantém esquemas cognitivos de que é com este tipo de pessoa que vai ser feliz ou que de alguma forma poderá mudar o outro.

    Durante muitos anos se confundiu doenças psiquiátricas com doenças psicológicas e a própria Psicologia lutou contra os diagnósticos psiquiátricos propagando a ideia equivocada de que diagnosticar um quadro psiquiátrico seria como criar um rótulo para o indivíduo. Isso ocorre porque as pessoas em geral e mesmo profissionais de psicologia com desconhecimento pensam em doenças com base no paradigma das doenças físicas das outras partes do corpo e pelo fato de os sintomas da doença psiquiátrica serem no comportamento, no pensamento e nos impulsos/vontade existe uma dificuldade em se entender que embora os sintomas não estejam localizados em um órgão físico específico mas no funcionamento da pessoa, ainda assim existem padrões pré-estabelecidos de como estas doenças psiquiátricas ocorrem, não é um processo aleatório ou leviano de diagnóstico.

    Na Medicina, toda doença que tem um padrão tem um nome, que se chama diagnóstico e o diagnóstico é importante para determinar qual quadro está presente e como ele ocorre, quais as perspectivas futuras, como a doença evolui, como ela é tratada e como ela se comporta. É inaceitável hoje em dia coisas que ocorriam antigamente como se prescrever um remédio para um paciente sem se estabelecer o nome da doença e para que o remédio funciona. Nenhum medicamento deve ser utilizado para corrigir um comportamento isolado ou mudar um padrão isolado de resposta. Os medicamentos visam tratar todos os sintomas de um quadro e não apenas sintomas isolados.

    Hoje em dia estas questões estão muito mais claras na cabeça das pessoas e cada vez menos existe preconceito com os diagnósticos em Psiquiatria porque se entendeu que doenças no cérebro de etiologia Psiquiátrica possuem um padrão e assim como o cardiologista faz o diagnostico da doença no coração, o Psiquiatra faz o diagnóstico da doença no cérebro e dizer o diagnóstico não é rotular, pelo contrário é informar e garantir que o paciente e a família entendam que muitos dos comportamentos do paciente não são produzidos pela personalidade dele. Quando uma pessoa tem uma doença psiquiátrica estamos dizendo que aquele conjunto de sinais e sintomas da doença não decorrem totalmente pela vontade da pessoa. Estamos inferindo que existe algo modificando a predisposição para uma pessoa se comportar deste ou daquele jeito. Nos quadros muito graves (minoria) a pessoa pode perder o controle do próprio comportamento e agir de maneira totalmente alheia a sua vontade (o que antigamente era chamado de loucura), mas é importante ressaltar que a maior parte das doenças psiquiátricas são leves, isto é, a pessoa não está louca, o que ocorre é que a doença acontece junto com o funcionamento voluntário do indivíduo e uma parte dos seus comportamentos estará sendo influenciado por aquele estado. São pessoas que estão nas ruas, nos trabalhos, gente como a gente, mas não deixam de estar sofrendo…..

    • A SÍNDROME DO PÂNICO

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    Uma crise pânico não é uma simples crise de ansiedade. Crise de ansiedade é quando uma pessoa percebe que está progressivamente ficando mais ansiosa, com mais medo e preocupação até um ponto onde se percebe incapacitada e congelada. O contrário acontece em uma crise de pânico que geralmente é um evento súbito, isto é, começa de uma hora para a outra e espontâneo, sem fatores preocupantes prévios e por isso bastante assustador. Geralmente a pessoa está calma e sem grande sensação de ansiedade e de repente é tomada por uma desconforto e uma sensação esquisita e desagradável desconhecida e que piora progressivamente.

    Na crise pânico é comum a pessoa começar a acreditar que está tendo um infarto e vai morrer ou que está perdendo o controle sobre si mesma. Geralmente ocorrem sintomas físicos que fazem o indivíduo ficar mais preocupado como taquicardia, tremores, tontura, aperto no peito, falta de ar, formigamento, entre outros sintomas.

    A síndrome do pânico é o conjunto de sinais e sintomas no pensamento e no corpo que ocorrem juntos quando há desregulação de áreas cerebrais relacionadas ao controle do medo, nos sistemas de alarme para perigos. Doenças em outros órgãos podem desregular o cérebro e a pessoa começar a ter crises de pânico como asma, arritmias cardíacas, etc. neste caso dizemos que a síndrome do pânico é secundária. Quando decorre de uma alteração no próprio cérebro chamamos de transtorno de pânico ou síndrome de pânico primária. O transtorno de pânico não é uma doença psicológica, os sintomas são reais e geralmente após a primeira crise a pessoa começa a fugir ou se esquivar de situações em que acredita que possa ter uma nova crise e com isso cria uma série de situações nas quais fica preparada para tudo acontecer de novo. Normalmente as crises de pânico em um transtorno de pânico ocorrem repetidas vezes e em repetidos locais. É um quadro de base química cerebral, qualquer pessoa pode ter, não significa fragilidade emocional ou conflitos mal resolvidos, não melhora apenas com pensamento positivo e deve ser tratado com medicamentos e psicoterapia sempre combinados!

    • Entenda como o aumento de libido e de pornografia podem ser sintomas de um transtorno do humor!

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    Toda vez que pensamos em bipolaridade temos em mente a imagem de uma pessoa que oscila de humor entre dois polos: euforia e depressão. Entretanto o que ninguém sabe é que apenas na forma mais grave e rara (1%) de transtorno bipolar que os pacientes apresentarão quadros maníacos graves a ponto das pessoas à sua volta perceberem que está fora da realidade e com comportamentos bizarros, a antiga psicose maníaco-depressiva (PMD). As formas leves de transtorno bipolar são muito comuns e podem chegar a 10% de prevalência em estudos populacionais. Se pensarmos que a depressão é uma doença que tem uma prevalência na população de 20%, seria algo como que dizer que cerca da metade dos deprimidos possam pertencer a uma outra doença que também tem depressão, a bipolaridade.

    Mas e como essas formas leves de transtorno bipolar se apresentam? A resposta é: depressão. Sim, a marca da doença são quadros depressivos. Até existem os bipolares com quadros depressivos graves que apresentam incapacitação e afastamento do trabalho, mas a maioria são quadros depressivos mais brandos porém longos, entremeados com períodos de melhora e depois queda no humor, depressões que vem e voltam. E esse tipo de apresentação de depressão é super perigosa porque são depressivos sem a cara de depressivos, são pessoas que estão trabalhando, que estão tomando banho e saindo de casa, mas muitas vezes arrastadas, sem a mesma energia, apáticas, com excesso de sono durante o dia, com irritabilidade à vezes associada e uma constante sensação de mal-estar. Esses quadros apresentam o risco de o paciente se acostumar com a depressão, conviver com ela, acreditar que sintomas são da personalidade como “tenho baixa auto-estima”, “sou pessimista”, “procrastino tudo na minha vida”, estou cada vez mais indeciso e assim por diante”.

    Mas e onde entra a compulsão sexual em tudo isso? Pois bem, exatamente na parte que falamos que a doença tem um polo para cima além do polo depressivo. Esses pacientes com bipolaridade leve quando estão na na fase de cima da doença não ficarão eufóricos como os bipolares graves. Na verdade o humor elevado na bipolaridade leve será de entusiasmo e mais desinibição, ficam mais corajosos para fazerem o que desejam e agem muitas vezes impulsivamente, sem prever os riscos e consequências de seus comportamentos. E entre os sintomas de aumento de impulsos cada paciente pode expressar isso de um maneira: alguns aumentam o consumo de jogos, outros aumentam o consumo de bebidas e drogas, outros de comportamentos compulsivos de gastos e assim por diante. Além destes, existem os pacientes cujos sintomas de impulsividade aparecem na esfera sexual. São pacientes com histórico longo de depressões e que entre as crises depressivas ou mesmo em vigência da depressão (quando na depressão clássica a libido cai vertiginosamente) apresentam aumento de libido, pensam em sexo, buscam sexo arriscado e perigoso, se masturbam excessivamente e durante os picos ficam com comportamentos compulsivos por sexo, um verdadeiro vício e busca pelo prazer.

    Toda vez que um comportamento sexual excessivo for observado, é importante entender como o humor oscila e qual o histórico familiar do paciente. Pessoas com transtorno bipolar leve normalmente possuem muitos familiares com depressão, com história de suicídio, de dependências químicas e de instabilidade e agressividade.

    • USAR DROGAS É COMO COLOCAR O COMPUTADOR CEREBRAL EM UM CURTO-CIRCUITO!

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    Recebi um vídeo em Minha página do facebook e o que era para ser algo engraçado não consegui enxergar com graça nenhuma. Um vídeo que circula na internet de um rapaz que foi internado em um surto psicótico desorganizado. Para quem sempre achou que uma pessoa psicótica é alguém que fica vendo coisas e relatando as alucinações, lhes apresento uma modalidade de psicose de elevada gravidade que é quando o cérebro está tão desorganizado por aumento de atividade de dois neurotransmissores excitatórios (dopamina e glutamato) que o resultado é um comportamento incoerente, desorganizado e sem sentido. Esse conjunto de produção verbal aleatória e sem lógica é uma alteração que tecnicamente é chamada de “salada de palavras”.

    Como dá pra perceber em outras postagens da página, tento sempre defender nossa atividade de Psiquiatria e Psicologia lembrando às pessoas que tudo que fazemos e pensamos vem do cérebro. Podem reparar que não uso e abomino o uso indiscriminado do termo “mental” (ex: saúde mental, doença mental, etc) porque ainda vivemos em uma época em que não se acredita nas doenças psiquiátricas do cérebro, só o que dá medo são as doenças neurológicas, porque matam ou deixam sequelas agudamente. Como as doenças psiquiátricas se expressam através do comportamento e do pensamento, tem sempre alguém para perguntar “será que é mesmo uma doença?”. O termo “mental” embora se refira aos processos do pensamento e da consciência de uma certa maneira contribui para levar todas essas coisas para algo subjetivo, fluido e distante de nós, como se o pensamento estivesse na mente. Na verdade tudo isso está em nosso órgão mais precioso, nosso computador perfeito, nosso sistema nervoso central, o cérebro. Eu acredito que muitos jovens por visualizarem todos estes processos (pensamentos, sentimentos, a consciência, etc) em um lugar distante e que ninguém sabe onde fica, a mente, acaba impulsivamente se expondo ao contato com substâncias achando que essa saída da realidade ocorrerá naquele local distante e logo em seguida tudo vai ficar bem e tudo não vai passar de uma brincadeira divertida e emocionante! Aposto que muitos de nossos jovens não estão completamente conscientes de que colocar cocaína dentro do cérebro é como jogar água na placa elétrica de um computador. Pode ser que tudo fique bem após a água secar, mas se dermos azar a placa pode queimar. Não dá para prever o resultado de uma exposição mesmo que ÚNICA a estimulantes tão potentes como cocaína, LSD, ecstasy. A maioria retorna ao seu estado normal, que bom que é assim, mas existe uma parcela que pode ficar permanentemente transtornada….

    • O SUICÍDIO AINDA É VISTO COMO UM COMPORTAMENTO MULTIFATORIAL E NÃO COMO DOENÇA!

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    Circula na internet este relato abaixo:

    “Um adolescente de 17 anos se joga do 10° andar de um prédio em Recife (Pernambuco) na última Quinta-Feira (13/07/17). Antes de se jogar, grava uma live no Facebook dizendo estar depressivo, muito machucado e diz que não aguenta mais viver. Desliga a live, repousa o celular na janela e se joga, caindo em cima de uma parada de ônibus, depois caindo no chão, na calçada. Seus sapatos voaram, ele cai de cara no chão, em meio a avenida mais movimentada da cidade. As pessoas se aglomeram para ver o corpo que ainda respirava e tentam furtar seus pertences do bolso, querem tirar até a camisa do jovem. Dizem que ele não tem mais jeito, que vai morrer, que vai pro inferno por se matar. NINGUÉM LIGA PARA O SAMU a não ser uma jovem tatuada e perplexa com a cena. Religiosos chegam perto do corpo ainda respirando e perguntam se ele era gay. O jovem para de respirar, braço quebrado, fratura exposta no crânio, morre. O SAMU chega, todo mundo se afasta sob fortes gritos do socorrista que fica indignado com os flashes e câmeras apontadas para o cadáver. O médico faz os exames iniciais e constata o esperado: o jovem morreu.Pois bem, ele foi amigo, filho, sobrinho, irmão, colega de classe e trabalho de alguém. Mas naquele momento, naquele instante ele foi condenado pela população, que mesmo sem ter nenhuma procuração em nome de Deus em mãos, o condenam ao inferno pelo suicídio”.

    Fico perplexo com este tipo de relato pois demonstra que a sociedade ainda não sabe o significado de DEPRESSÃO e BIPOLARIDADE, ninguém se importa com a dor que este jovem sentia que de tão grande o fez tomar essa atitude. Depois de morto ele foi furtado, depois de morto foi condenado, depois de morto foi diminuído apenas ao inferno, ninguém vê tudo isso como uma doença cerebral, como um transtorno psiquiátrico, as pessoas ainda enxergam suicídio como um comportamento de alguém triste e sem esperanças na vida. De alguém que era homossexual e sofreu preconceito ou de alguém que estava endividado e não viu saída. Não!!! Não existe suicídio sem transtorno psiquiátrico! Todas as situações difíceis de vida são fatores ambientais que pressionam a resistência psicológica da pessoa mas em nível cerebral essas coisas aumentam a inflamação cerebral e NAQUELES INDIVÍDUOS VULNERÁVEIS desencadeiam a doença cerebral depressiva e/ou bipolar. Não vamos inverter a ordem das coisas, suicídio é uma doença e só adoece aqueles indivíduos com vulnerabilidade para tal.

    Dos transtornos psiquiátricos o que mais causa suicídio é a bipolaridade! E não estou falando do bipolar tipo I que fica internado nos hospitais dançando e cantando em euforia, estes são minoria e raros. Estou falando de pessoas deprimidas aos milhões que estão espalhadas pelo Brasil com quadros depressivos que não melhoram e que ninguém jamais pensou que exista bipolaridade associada porque a pessoa não fica eufórica. O problema é que em
    bipolares leves (tipo II) as oscilações do humor são leves e ocorrem sutilmente no meio do dia-a-dia da pessoa com picos discretos de aumento de irritabilidade, agressividade; de impulsividade (rompantes de gastar, beber, tomar café, tomar calmantes, fumar, jogar compulsivamente, fazer sexo impulsivo, fazer tatuagens impulsivamente); de aumento de energia (melhora da depressão com picos de ficar acordado a noite na internet ou muito produtivo) ou com picos de aumento da quantidade e da velocidade do pensamento (pensar demais ou pensar em grande velocidade com confusão mental e desespero). O problema é que em casos como estes, devido a magnitude da depressão, que é muito mais intensa e persistente, essas oscilações para cima não são percebidas e a doença bipolar segue silenciosa. Até que um dia a depressão se agrava e num pico de aumento de energia mas que vem com desespero e agitação mental a pessoa toma coragem e se suicida. E ninguém viu todo esse turbilhão de depressão agitada bipolar acontecer porque tudo isso acontece nas profundezas do cérebro e tudo isso a pessoa sofreu sozinha, no fundo do quarto agitada e desesperada…..

    • O QUE AS PESSOAS PENSAM SOBRE PSIQUIATRAS E PSICÓLOGOS?

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    Todas as profissões possuem prós e contras, mas ser Psiquiatra é lidar com o preconceito e a falta de credibilidade da maior parte da população. Abaixo trago a vocês prints de postagens que encontrei hoje na internet e que fizeram meu dia um pouco mais triste por ver que ainda somos motivos de chacota e de muito desrespeito por parte de uma boa fatia da sociedade. Aproveito para tentar rebater algumas das acusações/colocações feitas:

    1- Quando o cara não consegue formar uma igreja, abre um consultório.

    Minha colocação: Infelizmente as doenças psiquiátricas por não serem confirmadas por exames de sangue ou de imagem acabam caindo em descrédito por grande parte das pessoas e nesse sentido acaba sendo uma presa fácil para religiosos de má índole que buscam no sofrimento das pessoas uma forma de arregimentar seitas. Eu costumo dizer que fé é algo que a pessoa cultiva e deseja por vontade própria acreditar. A fé em algo maior ou sobrenatural não invalida a Ciência e suas observações, as duas coisas podem coexistir. Se em doenças muito bem estabelecidas e bem definidas por exames como o câncer, por exemplo, existem religiosos que ousam orientar o fiel a abandonar o tratamento médico e buscar a cura pela fé, imaginem vocês em doenças psiquiátricas, que são FÍSICAS, ocorrem no CÉREBRO, mas decorrem de prejuízo no funcionamento do sistema nervoso e não na estrutura do cérebro. É muito comum dizerem que a fé cura a depressão, mesmo em casos graves onde os medicamentos são essenciais!

    2- Psiquiatras e Psicólogos só querem o dinheiro dos pacientes. E Psiquiatras são receitadores de remédios e ganham comissão para indicá-los.

    Minha colocação: Psiquiatras e Psicólogos lidam com dor e sofrimento mas são profissionais técnicos, vivem disso, se especializam e se atualizam para fornecerem um bom serviço. Não se trata de filantropia ou de caridade só porque lidamos com doenças psicológicas e comportamentais. O que não quer dizer que não tenhamos que fazer com muito amor nosso trabalho e com dedicação e acolhimento ao sofrimento. Todo bom profissional não chegou ali por acaso e o sucesso de um profissional não se sustenta se seus tratamentos não derem certo, os clientes simplesmente param de ir ou recomendar seus serviços. Psiquiatras são receitadores de remédios porque casos graves de transtornos psiquiátricos requerem remédios. Se melhorasse com reza ou imposição de mãos seria muito mais fácil. Medicamentos são muito complexos e possuem uma série de efeitos e de interações que precisam ser conhecidas para serem administrados. Psicólogos não fizeram Medicina e por isso não possuem formação técnica para prescrever medicamentos e os transtornos psiquiátricos requerem uma série de conhecimentos acerca de outras doenças físicas que precisam ser excluídas para a confirmação de uma doença Psiquiátrica. É verdade que deve existir médicos psiquiatras que ganham comissão para prescrever medicamentos mas hoje em dia isso é muito fácil de ser resolvido. As diretrizes de tratamento estão disponíveis para consulta por qualquer um, sempre que alguém suspeitar se há algo errado ou se o remédio é muito caro ou diferente basta buscar nas diretrizes mundiais de tratamento para saber se são as primeiras linhas de tratamento e questionar o médico o porquê de sua utilização!

    3 -Fazem os pacientes de cobaia. Não sabem o que o paciente tem e saem colocando remédio e depois ficam ajustando as dosagens sem a mínima ideia do que estão fazendo.

    Minha colocação: Os tratamentos que estão disponíveis e são recomendados como primeira linha já foram submetidos a várias pesquisas acerca da dose, toxicidade, efeitos colaterais (a curto e longo prazo) e principalmente a eficácia (se os remédios funcionam ou não). Esses medicamentos que são usados hoje em dia já foram usados por milhões de pessoas no mundo todo e já se mostraram melhores do que o placebo (ausência de tratamento), ou seja, a chance de ele funcionar, quando prescrito é maior do que de não funcionar. Os ajustes de dose são sempre necessários nos tratamentos psiquiátricos e não são aleatórios e descabidos, existe um racional para isso. Muitos pacientes têm o péssimo hábito de aumentar ou diminuirem os remédios por conta própria. Isso prejudica o tratamento de uma maneira tão nociva que muitas vezes o motivo de as pessoas não melhorarem se devem mais a isso do que a erros no diagnóstico ou no tratamento. O grande motivo muitas vezes de os pacientes fazerem isso é que o efeito dos medicamentos psiquiátricos é lento e por isso não aparece de imediato, o que faz a pessoa achar que ele não está funcionando (quando na verdade está) ou que pode parar o tratamento que não vai piorar (sendo que a perda do efeito também é lenta).

    4- Psiquiatras só receitam remédios e não prescrevem yoga, reiki ou meditação. Não pedem exames como cintilografia para confirmar o diagnóstico e não prescrevem tratamentos modernos como estimulação magnética porque querem deixar a pessoa doente para sempre para não perderem o cliente.

    Minha colocação: Bons Psiquiatras não prescrevem tratamentos alternativos porque não existem estudos que comprovem a eficácia de tratamentos como estes. O doente está em sofrimento e precisa de algo que funcione. Com dor e sofrimento NÃO se brinca. Assim como um tratamento de CÂNCER não pode ser realizado com banho de luz, um tratamento de depressão não pode correr o risco de piorar o doente ou leva-lo ao suicídio. Psiquiatras não pedem exames como cintilografia e perfusão cerebral porque eles ainda estão em estudo e não servem para o diagnóstico. Tratamentos como a estimulação magnética não servem para casos graves e são ainda demasiadamente caros.

    Portanto meus queridos. Esta é a imagem que muitas pessoas ainda têm da Psiquiatria e da Psicologia. Nossa luta diária é derrubar estes conceitos deturpados e essa imagem repleta de sujeira e má índole que muitos possuem de nós!

    • URGENTE: Crises de pânico precisam ser tratadas com medicamentos em sua maioria esmagadora dos casos!

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    Este é um pedido de socorro! Sei que a maioria dos psicólogos são muito bem esclarecidos acerca da importância do uso de medicamentos nas doenças psiquiátricas mas infelizmente existe uma minoria carente de informações (como toda profissão) que ainda tem preconceito sobre o uso de medicamentos para o cérebro!

    Esta semana atendi um caso de pânico que me chocou e me deixou consternado. Trata-se de um paciente (não posso revelar o sexo, idade ou quaisquer outros atributos clínicos por conta do sigilo ético) que vinha tendo crises há 6 meses, isso, há 6 meses, de taquicardia, falta de ar, suor excessivo, tremores e sensação de morte iminente súbitas. Não quis procurar médico porque o pai é extremamente contra e tinha medo do vício dos remédios psiquiátricos. Procurou psicóloga que disse se tratar de uma doença psicológica e que advinha de conflitos inconscientes. O paciente sofreu muito, crises intermináveis, pensou em suicídio para conseguir ter paz.

    Eu trabalho com muitos psicólogos ao meu redor e os amo de verdade porque sem eles eu não conseguiria continuar muitos dos meus atendimentos em transtornos do humor. Imploro que não leiam meu post como uma crítica à Psicologia ou ao trabalho da terapia ou qualquer coisa do tipo porque não é nada disso. É apenas um pedido de socorro e de perda de preconceito. Infelizmente muito profissional deixa de recomendar o uso de medicamentos para doenças psiquiátricas e as trata exclusivamente de maneira psicológica por puro desconhecimento. O transtorno de pânico é um distúrbio cerebral de áreas relacionadas medo e ansiedade (substancia cinzenta periaquedutal e amígdala). Costumo dizer que estes são nossos alarmes internos contra roubo que perdem a calibração e fazem a pessoa ter crise de pânico súbitas e sem motivo. Os sintomas físicos são REAIS! Sim, a pressão sobe, o suor, o frio, tremor….

    Este é apenas um alerta porque sou extremamente simpático ao trabalho conjunto e fico muito triste quando vejo um sofrimento imposto a um paciente porque o terapeuta é contra o uso de medicamentos para quadros classicamente agudos. O pânico melhora muito com terapia comportamental de exposição mas casos graves e muito intensos precisam de tratamento farmacológico associado!

    • PERIGO: Quando o portador de um transtorno de humor (depressão ou transtorno bipolar) tem mais preconceito sobre a doença que as outras pessoas ao seu redor!

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    Quando decidi me dedicar ao estudo e tratamento de pessoas com transtornos do humor, tinha uma postura que buscava resolutividade e a cura, pressupostos muito alinhados com as outras áreas da Medicina. No entanto, quando você começa a lidar mais de perto com transtornos psiquiátricos e mais especificamente transtornos do humor você começa a perceber que esta área que escolhemos é bem complexa. O cardiologista recebe um doente que vem apresentando pressão alta e se queixando de dor no peito quando está jogando futebol, ele então prontamente solicita alguns exames e prescreve os medicamentos. O doente nota que a pressão objetivamente abaixou e a dor sumiu. Feliz o paciente toma o remédio para o resto da vida!

    Quando lidamos com portadores de transtornos do humor lidamos com alguns problemas:

    A pessoa vem porque apresenta oscilações do humor entre depressão e períodos de irritabilidade e agressividade. Ocorrem há pelo menos 2 anos e não são o padrão basal do temperamento e da personalidade dela. A família notou que ela está diferente e tem tido prejuízos marcantes em trabalho e relacionamentos devido a isso. Não há drogas ou outros medicamentos ou doenças em outros órgãos que justifiquem os sintomas. Parece meio certo para todos que se trata de uma desregulação cerebral do humor e que precisa de tratamento.

    Tudo parece simples, rápido e fácil. Aí começam os problemas:

    1) O medicamento estabilizador de humor demora pelo menos uns 2 meses para um completo efeito estabilizador (quando na melhor das hipóteses o medicamento se adequa à doença da pessoa);

    2) No período de início do tratamento os efeitos colaterais vêm com tudo. A pessoa deprimida ainda tem que enfrentar boca seca, tontura, fraqueza, sonolência de dia, intestino preso e dor de cabeça;

    3) As pessoas quando fazem um tratamento psiquiátrico via de regra têm a falsa ideia de que o remédio é uma “muleta que lhes dá apoio e que os deixam artificiais e dopados”. É raro ver um doente sóbrio o suficiente a ponto de entender que o remédio traz liberdade e permite ele a voltar a ser quem ele era, sem a visão distorcida que a depressão traz. Geralmente a pessoa aceita o remédio mas quer parar com ele rapidamente. Mesmo que esteja bem e sendo quem ela sempre foi ainda assim páira no ar esse desejo de se livrar do medicamento e “conseguir controlar os sintomas sozinho”.

    4) Geralmente vizinhos e amigos ignorantes falam com muita propriedade sobre aquilo que desconhecem e via de regra olham com maus olhos o fato de a pessoa estar tomando remédios para melhorar um comportamento. São comuns lendas sobre pessoas que foram ao Psiquiatra e ficaram “mais loucas devido ao uso de remédios” ou histórias de que “o remédio dado pelo médico fez a pessoa ficar esquizofrênica e depois de uma reza ou oração a pessoa se curou e nunca mais precisou dos medicamentos”;

    5) Em algum momento do tratamento o doente começa a melhorar e com energia e vontade recuperados começa a questionar sua insanidade e com justificativas psicologicamente elaboradas começa a se convencer de que a depressão não era bem aquilo que se acreditava ser e agora, enviesado por estar melhor, atribui a melhora a fatores de vida como estar tudo bem com a família e no trabalho, à vida estar tranquila, a ter ido passar alguns dias no sítio e por aí vai. É difícil atribuir o efeito diretamente ao remédio porque o efeito é tênue e sutil e vem devagar.

    Depois de todos estes passos chega um fatídico dia (para alguns dos pacientes) em que eles ligam para nós, os médicos psiquiatras, e dizem: “Doutor, sei do seu esforço em querer me ajudar e o quanto estava mal no começo. A verdade é que melhorei um pouco mas cada vez menos sinto alguma melhora, então queria realmente lembrar como era ficar sem remédio, não sei se da pra ser pior do que eu estou hoje.”

    Soa como uma faca no peito esse tipo de coisa, ver que a pessoa está ainda doente e não acredita ou tem preconceito contra sua própria doença. A verdade é que o doente tem o livre arbítrio para fazer as suas escolhas e enquanto não estiver fora da realidade (com delírios e alucinações) ele pode decidir sobre sua vida. É certo que a doença psiquiátrica cursa com um efeito chamado “anosognosia”:

    “A anosognosia não é uma doença, é um sintoma que ocorre em muitas doenças neurológicas e psiquiátricas. Ocorre quando estruturas do cérebro sofrem danos ou passam a não estão funcionar bem levando a uma falsa percepção de não estar doente ou de não ter uma deficiência ou lesão. Este é um sintoma estranho e pode-se dizer até perigoso, porque ele é muito atraente para as pessoas ao redor que não aceitam a disfunção que existe” (Fonte: Neurological diseases, 2017).

    É muito comum o portador de algum transtorno psiquiátrico achar que está “vivendo sob efeito de remédios” sem notar o benefício que o medicamento traz. Tentamos alertar, tentamos educar sobre a doença mas muitas vezes isso não é suficiente. E o pior é que a cada minuto que passa tem alguém que precisava estar tomando remédios para se estabilizar e decide parar. Em alguns meses a doença volta com tudo. E os prejuízos virão maiores ainda. E aí a pessoa aprende da pior maneira que realmente precisa dos medicamentos. Quem já viveu isso sabe que não estou inventando!

    • O RETORNO DOS MEDICAMENTOS PARA EMAGRECER E A CATÁSTROFE PSIQUIÁTRICA!

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    Mais uma vez o Brasil sai à frente na fila da vergonha mundial em que políticos sancionam leis que decidem sobre liberação ou proibição de medicamentos sem a devida consulta a especialistas e a estudos clínicos sobre os riscos e benefícios disso. Essa semana o
    deputado Rodrigo Maia sanciona lei que permite o uso de remédios até então vetados para a perda de peso (anfepramona, mazindol e femproporex). Vetados desde 2011 por uma resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) esses medicamentos levantaram polêmica por, apesar dos resultados na balança, serem anfetamínicos, substâncias com potencial para causar dependência, arritmia, infarto e a eclosão de transtorno bipolar.

    Infelizmente o Conselho Federal de Medicina (CFM), entidade que regulamenta o exercício da medicina no país, emitiu uma nota vergonhosa afirmando que a medida é “Um avanço importante no tratamento de doenças que dependem do uso de anorexígenos, como é o caso dos pacientes com obesidade”. É um absurdo como uma entidade como o CFM negligencia a necessidade de pesquisas clínicas adequadas para decidir sobre a liberação ou proibição de um produto sem saber se os riscos à população é ou não considerável. A grande questão acerca destes medicamentos é que são produtos criados há muitos anos e como já perderam a patente não há no momento interesse das indústrias farmacêuticas em realizarem estudos de eficácia e segurança sobre esses remédios emagrecedores. Dessa forma, aprova-los hoje é o mesmo que liberar um remédio sem saber os riscos que ele possui.

    O que pouco se fala é que medicamentos derivados de anfetamina além de inibirem o apetite são estimulantes do sistema nervoso central e assim como outras substancias estimulantes como cocaína, crack, ecstasy, metanfetamina, cafeína e a nicotina, são substâncias que podem instabilizar o funcionamento de áreas relacionadas ao humor, energia e impulsividade e produzirem a eclosão de formas variadas de transtorno bipolar em indivíduos vulneráveis. É um problema grave porque nenhum endocrinologista faz uma avaliação psiquiátrica adequada para saber se há risco em se prescrever um medicamento destes a um paciente. As consequências podem ser irreversíveis e quem vai se responsabilizar com depressão, irritabilidade, agressividade, insônia, ansiedade, perda de emprego, separações, brigas, prejuízos morais e pessoais.

    A obesidade realmente é um problema de saúde pública, mas toda e qualquer medida de tratamento deve ser responsável e baseada em pesquisas clínicas adequadas porque o preço que pode se pagar pode ser bem caro…

    • POR QUE AS DOENÇAS DO CÉREBRO NÃO SÃO RESPEITADAS COMO AS OUTRAS DOENÇAS FÍSICAS?

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    Este vídeo desta campanha americana traz de maneira caricata várias situações embaraçosas do dia-a-dia mostrando como seria esquisito se tentássemos negligenciar as queixas de alguém com uma doença física simplesmente tratando essas queixas com desdém. Mas por que isso não acontece na realidade? Isso não acontece porque as outras doenças do corpo são visíveis diretamente (ex: um machucado) ou indiretamente através de exames (ex: glicemia alterada no diabetes). As doenças cerebrais psiquiátricas são alterações no modo de funcionamento do cérebro que repercutem em comportamentos e contato com a realidade diferentes. Como as pessoas à volta não estão vendo diretamente ou por exames a doença se sentem no direito de emitir opiniões pessoais ou julgamentos acerca do que está acontecendo (ex: é falta de esforço para conseguir sair de casa) ou de como o problema pode ser resolvido (ex: você não precisa de remédios para lidar com seu sofrimento).

    Vale ressaltar que as doenças cerebrais neurológicas são prontamente reconhecidas e temidas porque ao ocorrerem lesam o sistema nervoso e produzem repercussão visível no comportamento motor/sensitivo e até podem matar rapidamente. Já as doenças cerebrais psiquiátricas ao ocorrerem não lesam (pelo menos a curto prazo) o sistema nervoso pois são doenças funcionais, isto é, são modificações no funcionamento dos neurocircuitos!

    Por isso é comum vermos situações como as seguintes:

    1. Um deprimido reclama de tristeza persistente e não quer ir à uma festa.

    Reação das pessoas: Por favor, não fica reclamando assim, você acaba com o clima em todo lugar que você chega.

    2. Um deprimido não consegue sair da cama para caminhar.

    Reação das pessoas: Mas você não está se esforçando para sair disso…

    3. Um ansioso precisa tomar medicamento para não ter crise de pânico.

    Reação das pessoas: Você está tomando remédio para isso? Vai se vicar nestas drogas!!

    4. Uma pessoa deprimida está vendo a realidade distorcida e com desesperança.

    Reação das pessoas: Algumas pessoas estão passando por problemas piores que os seus. Pense nisso antes de achar que sua dor é realmente grande….

    5. Um deprimido com depressão grave e resistente está melhor tomando 2 tipos de medicamentos.

    Reação das pessoas: Você está se entupindo de antidepressivos novamente? Já pensou em lutar contra isso de uma forma natural?

    Pense sobre isso antes de julgar ou dar uma sugestão sobre como alguém com alguma doença psiquiátrica deve ou não se comportar. Sua atitude pode ajudar mas também pode agredir profundamente quando mal colocada!

    • POR QUE O CÉREBRO DOENTE TENTA CRIAR EXPLICAÇÕES PSICOLÓGICAS PARA DOENÇAS FÍSICAS COMO A DEPRESSÃO?

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    Se você parar para refletir vai lembrar que sempre que não estamos bem emocionalmente nossa cabeça começa a pensar mais e refletir buscando na memória coisas nossas ou em nossas vidas para explicar e nos ajudar a entender o porque daquele sofrimento. É natural do córtex cerebral humano buscar causas, justificativas e mesmo interpretações para as coisas. Isso nos diferencia por exemplo de outros mamíferos sem um cérebro com capacidade de reflexão. Em modelos experimentais para estudar depressão, após criarmos situações ambientais estressoras crônicas que machucam e fazem sofrer um rato, por exemplo, ele passa a se comportar exatamente como um humano deprimido: se movimenta menos, come menos, dorme mal, sente menos atração por sexo e outras coisas prazerosas, se isola de outros ratos colocados próximos a ele, etc. Entretanto, apesar de ele realmente estar deprimido, o cérebro do rato por ser diferente do nosso não faz com que ele pense, que sofra, que fique remoendo, que fique lembrando de coisas do passado com tristeza ou que fique em um canto sofrendo sozinho pensando em porque ele está assim como faz o cérebro de nós humanos! Isso ocorre porque nosso cérebro tem contato com todo nosso corpo através de nervos e por isso ele possui 2 consciências: uma “biológica” (sente o corpo) e uma “psicológica” (sente e define a pessoa como um EU). Quando estamos com fome ou com sede isso gera uma consciência biológica de um estado interno de fome ou sede. Já a consciência psicológica surge por aprendizado do nosso cérebro ao longo de nossas vidas sobre tudo que passamos de psicológico e nas relações sociais e tudo isso fica gravado em nossa memória psicológica.

    Em relação à nossa afetividade, a mãe nomeia os estados emocionais da criança com base naquilo que ela vê do “lado-de-fora” da criança. E , do lado de fora de uma criança, a gente só pode ver “causas externas”, não “causas internas”. Por exemplo, uma mãe, ao ver uma criança chorar, só pode deduzir que ela esteja triste por causa de um problema externo, ou porque a mãe saiu do quarto, ou porque o irmãozinho dela gritou com ela, etc.
    Tudo isso faz com que as comunicações da mãe com a criança estejam baseadas em “causas externas”, não em causas internas. E é esse sistema de comunicação mãe-adulto-bebê que formará a base de nossa consciência psicológica, ou seja, a base desse “segundo eu” que conversa com a gente o tempo todo. Nossa consciência que pensa e reflete sobre o que está ocorrendo.

    É esse segundo eu psicológico que codifica e interpreta o mal-estar da depressão que a consciência biológica (nosso cérebro alterado) nos apresenta. A depressão sendo uma doença do humor gera um mal-estar, mas como todo mal-estar que se passa em nosso corpo esse também tem de ser pensado, refletido e interpretado e quem faz isso é a nossa consciência psicológica. Por isso é comum a pessoa deprimida pensar muito e buscar a todo tempo uma explicação para a depressão. O problema é que pelo fato de a depressão ser física (problemas na comunicação cerebral por desordem nas vias neuronais), a consciência psicológica interpreta erradamente o recado da consciência biológica : irá buscar uma casa externa para ela (brigas, perdas, luto, conflitos, problemas, estressores). Por isso nenhum depressivo vai chegar dizendo “Tenho um problema no cérebro que está me fazendo sentir-me mal”. A crítica sobre a doença sempre está ausente, a depressão é um óculos escuro que faz a pessoa enxergar diferente sem saber que está de óculos, isso porque a depressão também altera o lobo frontal que é responsável pela nossa crítica sobre estar doente. O paciente, nesses casos, portanto, perde a noção de que o próprio cérebro não funciona bem, exatamente porque a área do cérebro que faz essa crítica não está funcionando bem.

    Por isso o deprimido não entende o que sente e muitas vezes busca explicações para sua depressão em coisas que aconteceram há 20 anos atrás. A pessoa sofre lembrando de coisas tristes que viveu na infância e tende a explicar o tempo todo seu sofrimento. Os psicólogos ao fazerem a terapia de um deprimido sabem que o problema é físico e muitas das elaborações psicológicas que ele cria são distorcidas pela depressão!

    Fonte de apoio: Prof. Dr. Marcelo Caixeta, médico psiquiatra.

    • Você sabia que numerosos estudos têm observado que pessoas que possuem sintomas depressivos ao longo da vida (mesmo que não tenham tido depressão propriamente dita) têm risco aumentado de demência no final da vida?

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    Estudos longitudinais em populações ocidentais e orientais examinaram a associação entre sintomas depressivos em qualquer momento da vida e a incidência de distúrbios cognitivos no fim da vida (memória, atenção, funções executivas) e encontraram uma alta correlação entre estes dois fatores. Isso significa que a existência de transtornos do humor ao longo da vida, se não tratadas poderiam também colaborar para um quadro degenerativo e a ocorrência de síndrome demencial (esquecimento, perda de funcionalidade, etc) após a pessoa envelhecer.

    FONTE: Feng L et al, 2017. Journal Nutrition Health Aging. Depressive Symptoms Increase the Risk of Mild Neurocognitive Disorders among Elderly.

    • DEPENDÊNCIA QUÍMICA ESCONDE MUITOS CASOS DE BIPOLARIDADE

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    É muito comum as pessoas enxergarem a dependência química como uma doença isolada e que causa muitos danos e prejuízos tanto ao paciente quanto à família, mas o que muitas vezes as pessoas não sabem é que uma grande parcela dos casos de dependência química na realidade esconde um sintoma de uma doença muito mais complexa e muitas vezes sub-diagnosticada que é a impulsividade do transtorno bipolar.

    A apresentação clássica de transtorno bipolar com fases de euforia intercaladas com fases de depressão é rara e representa a menor parcela dos verdadeiros bipolares, apenas 1% dos casos.A maior parcela dos portadores de transtorno bipolar apresenta uma doença com uma apresentação tão grave quanto à eufórica, mas com uma apresentação que muitas vezes é confundida com outras doenças, porque justamente vêm com sintomas exuberantes de outros quadros e esta parcela chega a uma frequência de 6% em alguns estudos. As outras formas de transtorno bipolar podem cursar de várias maneiras mas muitas delas não cursam com depressão, mas com períodos de aumento de energia e impulsividade com humor elevado (grandioso, prepotente, arrogante) mas não eufórico, de forma que o paciente apresenta comportamentos de aumento de impulsos e exageros que escondem o transtorno bipolar como: uso abusivo de drogas (álcool, cocaína, maconha, etc), sexo compulsivo, roubar compulsivo, uso abusivo de tecnologias eletrônicas como celulares e tablets e o jogar compulsivo.

    A apresentação é a mesma, o aumento de energia e a fixação mental em algum assunto, que varia de paciente a paciente, mas no fundo representa a mesma maneira do cérebro se alterar, que é a aceleração mental e a obstinação e o aumento de atividade dirigida que é observável em todos os subtipos de transtorno bipolar, variando conforme o grau e o subtipo. O grande problema destas apresentações mais variadas da doença bipolar é que muitas vezes se observa apenas o comportamento sem se observar a forma de apresentação, de maneira que o tratamento pode ser profundamente modificado quando o diagnostico passa de uma dependência química pura, em que muitas vezes as abordagens de psicoterapia são o tratamento mais recomendado, para um diagnostico de uso de drogas secundário ao transtorno bipolar em que a estabilização farmacológica do quadro possui um impacto diferente no prognóstico.

    Diante de qualquer quadro de uso de drogas é sempre recomendado uma avaliação do quadro psiquiátrico de maneira global buscando indícios de um transtorno do humor subjacente. Muitas vezes os usuários de drogas apresentam alterações de humor para agressividade e violência que são claramente associados a distúrbios do humor mas que são negligenciados na avaliação porque o uso de drogas toma a frente na expressão clínica.

    FONTE:
    Psychiatry Res. 2017. Substance abuse in patients with bipolar disorder: A systematic review and meta-analysis. Messer T, Lammers G, Müller-Siecheneder F, Schmidt RF, Latifi S.

    • Você sabia que a ocorrência de depressão em pacientes diabéticos é alta devido a ambas as doenças compartilharem de componentes inflamatórios?

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    Diferentes mecanismos fisiopatológicos têm sido discutidos para ligar diabetes e depressão, como disfunção do eixo hormonal que liga hipotálamo, hipófise e a glândula supra-renal, inflamação crônica, perturbação do ritmo de sono e fatores comportamentais. Estudos experimentais em animais e humanos identificaram uma conexão entre o sistema imunológico e neurocircuitos no cérebro, o que pode explicar o papel da inflamação no desenvolvimento da depressão. Estudos forneceram evidências de que pacientes com depressão têm níveis circulantes mais elevados de biomarcadores
    de inflamação como proteína C reativa (PCR), interleucina 6 (IL-6), antagonista do receptor de IL-1 (IL-1ra) e o fator de necrose tumoral alfa (TNF-alfa) do que indivíduos não-deprimidos. Como o diabetes é uma doença que cursa com inflamação crônica, elevando todos estes marcadores citados, estudos recentes têm demonstrado que a doença diabética descompensada pode contribuir como gatilho para alterações cerebrais que vão culminar nos sintomas depressivos.

    FONTE: Herder C et al, 2017. Brain Behavior and Immunity. Associations between inflammation-related biomarkers and depressive symptoms in individuals with recently diagnosed type 1 and type 2 diabetes.

    • Você sabia que a disfunção erétil pode estar diretamente associada a depressão?

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    A disfunção erétil masculina está associada a várias comorbidades clínicas como doenças cardiovasculares e renais, diabetes, tumores e síndrome da apnéia obstrutiva do sono e também com depressão. Cerca de 65% dos pacientes com algum grau de depressão têm disfunção sexual incluindo redução do interesse sexual e dificuldade de ereção. Diminuição da testosterona e aumento do cortisol (hormônio do estresse) foram associados a ambos depressão e dificuldade de ereção, alterações que por sua vez estão relacionada com a má qualidade do sono e insônia crônica. Os pacientes com disfunção erétil apresentam dificuldade para iniciar o sono e diminuição da qualidade do mesmo. Um estudo recente com 468 homens com idade entre 20 a 80 anos e mostrou que depressão é um fator de risco independente para um homem apresentar disfunção erétil. A interação entre esses fatores leva a baixa qualidade de vida e está relacionada a uma diminuição nos níveis de testosterona livre.

    FONTE: Soterio-Pires JH et al, 2016. International Journal of Impotence Research. The interaction between erectile dysfunction complaints and depression in men: a cross-sectional study about sleep, hormones and quality of life.

    • Você sabia que pacientes com depressão apresentam maior risco de infarto e arritmias?

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    Uma força tarefa de especialistas da Fundação Nacional de Doenças Cardíacas da Austrália concluiu que há evidência forte e consistente de que a depressão é um fator de risco independente para doença cardíaca e de que a depressão influencia o prognóstico destas doenças. Esse risco elevado é independente dos fatores de risco clássicos como tabagismo, obesidade, alterações de colesterol, diabetes e hipertensão. A associação está presente em homens e mulheres, em diferentes faixas etárias e em sujeitos que vivem em diferentes países. A estimativa foi de que o risco de doença coronariana é aumentado em até 2 vezes naqueles com sintomas depressivos leves (sem de fato configurar depressão) e 3 a 4 vezes em indivíduos com depressão de fato. O risco relativo de desenvolver um infarto parece ser proporcional à gravidade da depressão.

    FONTE: Esler M et al, 2017. Neuroscience Biobehavioral Reviews. Mental stress and human cardiovascular disease.

    • Você sabia que os sintomas físicos de uma crise de pânico são reais?

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    Isso mesmo, os batimentos acelerados, a elevação da pressão arterial, o suor frio, os tremores e a falta de ar não são sintomas psicológicos. O corpo realmente está apresentando todas estas alterações físicas em decorrência da descarga de adrenalina. O ponto decisivo para o diagnóstico de um transtorno de pânico é que todos estes sintomas físicos são produzidos em decorrência de uma desregulação de um sistema de alarme cerebral que dispara sem motivo e que faz com que a pessoa acredite que esteja morrendo e que todos os sintomas físicos decorrem de um ataque do coração, por exemplo, quando na verdade decorrem de uma desregulação do nosso alarme interno do medo, regiões cerebrais chamadas de amígdala e substância cinzenta periaquedutal.

    FONTE: Santos M et al, 2015. European Journal of Pharmacology. From neural to genetic substrates of panic disorder: Insights from human and mouse studies.

    • SUICÍDIO E O JOGO DA BALEIA AZUL

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    No segundo semestre de 2016 o Brasil confirmou o primeiro caso de morte decorrente de uma participação no jogo. A mãe do jovem confirmou que o filho participava do jogo da morte “Blue Whale” e de acordo com ela o filho vinha tentando deixar o grupo mas estava recebendo ameaças e pressão que o impediam de sair.

    É importante ressaltar que quem se envolve em um jogo desse tipo não está bem, o jogo em si não é a causa das mortes. Muitos jovens deprimidos procuram mais conteúdos suicidas e depressivos na internet como busca de entenderem o que estão passando e numa dessas acabam sendo presas fáceis de jogos como estes que transformam o sofrimento em algo que parece um desafio ou uma competição.

    A população geral tem a imagem de que a depressão é sempre aquele quadro lentificado em que a pessoa fica na cama, visivelmente triste e sem energia, mas o que não se fala é que a depressão em jovens é um quadro muito diferente, o jovem pode ter picos de humor deprimido ou irritabilidade mas com melhoras do humor em outros momentos e mais do que isso, muitos adolescentes podem ter humor deprimido inclusive com ideias de suicídio mas com energia preservada e às vezes até com aumento de impulsividade, condição que torna o quadro depressivo imperceptível pelos pais aumentando a chance de eventos letais e terríveis como este.

    Portanto, pais fiquem atentos e conversem com seus filhos, não julguem a priori se eles estão bem apenas pela impressão que eles passam, perguntem. A depressão no adolescente não fica estampada no rosto!

    • Você sabia que existe uma alta incidência de doença depressiva em pessoas que tiveram um derrame (AVC) recente?

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    A depressão vascular ou depressão pósAVC é a que ocorre logo após um evento de morte cerebral por um derrame. Decorre da perda neuronal em áreas da região frontal-subcortical do cérebro que são recrutados para a regulação emocional. Um estudo recente mostrou que agressões cerebrovasculares na meia-idade, como um derrame, produz um risco de sintomatologia depressiva em até 60% das pessoas, mesmo depois de ajustar os dados para outros fatores de risco para depressão. Isso corrobora a hipótese de que depressão pode ocorrer após agressões físicas ao cérebro mesmo sem que ocorram fatores psicológicos como estressores!

    FONTE: Scott R et al, 2017. International Journal of Geriatric Psychiatry. Cerebrovascular burden and depressive symptomatology interrelate over 18 years: support for the vascular depression hypothesis.

    • A RELAÇÃO ENTRE DESATENÇÃO E OS TRANSTORNOS DO HUMOR

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    A atenção é a capacidade do cérebro de perceber estímulos do meio e neles se prender. Dois tipos básicos de atenção garantem que prestemos a atenção naquilo que está ao nosso redor sem deixar que nada passe despercebido! Uma delas é a atenção voluntária, que é a atenção que o indivíduo busca voluntariamente observar as coisas que estão no ambiente. Ela estará em atividade quando por exemplo quando uma pessoa se esforça para tentar ler um livro e consegue prestar a atenção corretamente naquilo a que se propõe sem perder o fio da meada. Outra modalidade da atenção é a atenção espontânea, que é quando o indivíduo volta a sua atenção para coisas que estão no ambiente que chamaram sua atenção, isto é, ele estava prestando a atenção em algo e um estímulo do meio mais potente fez sua atenção ser desviada para ele. Nos transtornos de humor a modalidade atenção que está marcadamente alterada é a mobilidade atencional, ou seja, alteração da atenção espontânea. No deprimido clássico (lentificado), ela está reduzida, isto é, mesmo coisas que ocorrem perto da pessoa não fazem com que ela perceba tais estímulos, muito por conta de estar tão lentificada que não percebe as coisas a sua volta. No indivíduo bipolar em estado de agitação (quer seja uma depressão agitada ou uma euforia) a atenção espontânea está reduzida, ou seja, a pessoa está com intensa distraibilidade, isto é, pequenas coisas no meio são capazes de chamar a sua atenção e muitas vezes a pessoa neste estado não consegue prestar a atenção nem no que estava pensando que vem um outro pensamento atrapalhando seu raciocínio. Portanto, se uma pessoa encontra-se deprimida ou agitada, é esperado que sua atenção também esteja alterada, visto que os transtornos do humor também compreendem alterações de outras funções cerebrais paralelas!

    • ALTERAÇÃO DA SENSOPERCEPÇÃO NO ESTADO DE HUMOR EUFÓRICO

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    Os transtornos bipolares cursam com alterações no humor como sintoma cardinal mas não é infrequente uma pessoa eufórica apresentar alterações em sensopercepção. Ao sensopercepção é a uma função do cérebro em identificar estímulos sensoriais no ambiente (cores, sons, estímulos táteis, etc). Uma pessoa em estado eufórico de humor, quer seja por uma doença cerebral psiquiátrica como o transtorno bipolar quer seja induzido por algumas drogas estimulantes, vai identificar o que está a sua volta de maneira distorcida e bem diferente daqueles que não estão sob efeito de drogas ou que não estejam em estado de euforia. Chamamos de hiperestesia quando a pessoa eufórica percebe estímulos sensoriais do meio de maneira muito mais intensa que os demais indivíduos, por exemplo, a comida pode ganhar um sabor mais intenso, as cores ficam mais brilhantes e os sons mais intensos e vibrantes. Assim como o deprimido pode deformar estímulos do meio, a pessoa eufórica também, sons banais podem ganhar a intensidade de musicas para o maníaco ou mesmo de rimas que ninguém percebeu e a isso chamamos de ilusões catatímicas. Em casos graves de euforia podem ocorrer alucinações visuais ou auditivas geralmente congruentes com o humor, por exemplo vozes dentro da cabeça com conteúdo grandioso e megalomaníaco ou elogios constantes a pessoa que está em estado cerbral de agitação eufórica.

    • HUMOR DISFÓRICO (AGRESSIVO)

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    Assim como nem todas as depressões são puras , isto é, com redução de todas as funções cerebrais (humor, energia, velocidade de pensamentos e impulsos para baixo) e muitas são depressões mistas (misturas de sintomas de depressão e de agitação cerebral), nem todas as alterações do humor do campo da aceleração mental também serão puras (euforia, aumento de energia e de impulsos e aceleração de pensamentos). Quando indivíduos tem algum grau de bipolaridade é possível também apresentarem agitações mistas do humor (isto é, as pessoas ficarem aceleradas mas com sintomas que são de depressão como por exemplo o humor irritado) e a estes casos chamamos de “manias mistas”. Um exemplo de mania mista é a mania disfórica que é quando a pessoa apresenta aumento de energia, pensamento em grande quantidade e acelerado, corpo agitado (não consegue parar quieta), aumento de impulsividade (abuso de álcool, fumando muito, etc) mas o humor não é positivo (euforia) mas sim do outro polo, isto é, do campo da depressão (irritável e agressivo). O resultado disso é uma pessoa negativamente energizada, isto é, impaciente, pavio-curto, que dá respostas mais agressivas, que procura mais briga e que dependendo da #gravidade pode ficar até violenta ou hostil com os outros. Diante de qualquer suspeita de um quadro de aceleração mista do humor, isto é, períodos de dias em que a pessoa muda o humor e fica agressiva a maior parte do tempo, é preciso levantar a hipótese de algum grau de bipolaridade e iniciar um tratamento para tal. Mesmo o humor estando negativo (irritável), antidepressivos podem piorar este quadro!

    • DEPRESSÕES AGITADAS

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    Embora a depressão seja conhecida como um transtorno do humor, na verdade trata-se de um transtorno afetivo-volitivo-psicomotor, isto é, não é uma alteração apenas nas áreas cerebrais responsáveis pelo humor mas também em áreas associadas ao controle dos impulsos/vontade/ iniciativa (volição) e psicomotricidade (velocidade do pensamento e velocidade dos movimentos corporais). Quando um indivíduo apresenta uma “depressão pura” significa que todas estas funções #cerebrais estão reduzidas, isto é, além de humor para baixo, baixa energia (cansaço e fadiga incoerentes ao desgaste físico real), falta de impulsos e vontade (indecisão, procrastinação de compromissos), perda da capacidade de sentir prazer, lentificação dos pensamentos (pensa com mais dificuldade e se sente mais devagar) e lentificação motora (lentidão para se movimentar). Quando existe no cérebro algum grau de bipolaridade, as alterações do humor podem ser variadas e combinar componentes dos dois polos (lentificado e acelerado). Denominamos de “depressões mistas” as depressões com alguns sintomas que são de aceleração e que podem ser chamadas também de depressões agitadas. Um exemplo de “depressão mista” é quando a pessoa apresenta humor deprimido, falta de energia e falta de prazer mas o pensamento é em grande quantidade e acelerado, o corpo fica agitado e a pessoa não consegue parar quieta e concomitantemente há aumento de impulsividade mesmo a pessoa estando em depressão (abusa de álcool para desacelerar o pensamento e aliviar a agitação, fuma muito e abusa medicamentos calmantes). Diante de um quadro misto é preciso rever o diagnóstico e o tratamento inicialmente programado pois além do antidepressivo pode ser necessário a associação de um estabilizador do humor que é um medicamento que visa controlar a parte agitada da depressão!

    • IMPULSIVIDADE

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    A impulsividade é o fenômeno que observamos quando uma ação empreendida no meio ambiente ocorre sem o devido processamento mental e a realização do adequado julgamento, que passa pelo pensamento. Observamos alterações de impulsividade em vários comportamentos emitidos, por exemplo: verbal (quando a pessoa fala o que pensa dos outros sem avaliar o bom senso de tais comentários), sexual (quando a pessoa empreende atitudes sexualizadas por aumento de apetite sexual, sem o devido julgamento dos riscos aos quais está se expondo), gastos (compras e aquisição de objetos sem a devida avaliação do perigo de endividamento ou das reservas disponíveis), uso de drogas (abuso de substâncias químicas como bebidas, cigarro e outras drogas simplesmente seguindo o desejo do uso, sem a correta avaliação dos riscos e prejuízos de tal atitude), jogos (abuso e gastos em jogos de azar levando a prejuízos financeiros), entre outros. Alterações de impulsividade são muito frequentes em transtornos do humor e o que observamos como regra é que em indivíduos com depressão clássica (lentificada) geralmente ocorre redução da impulsividade e em indivíduos com transtorno bipolar (depressão agitada ou com euforia) geralmente a impulsividade está aumentada e comportamentos como os descritos podem ocorrer em maior frequência. Sempre que um indivíduo estiver deprimido e apresentar algum comportamento de maior impulsividade concomitante, é imprescindível uma avaliação quanto ao subtipo de depressão, pois a chance de pertencer a uma depressão com alguma grau de bipolaridade é elevada!

    • DIAGNÓSTICO DE DEPRESSÃO

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    É possível o paciente fazer o auto-diagnóstico de depressão?

    O diagnóstico em Psiquiatria deve ser realizado pelo médico porque depende de duas etapas importantes, uma primeira em que é realizado o diagnóstico sindrômico, isto é, da síndrome (conjunto de sinais e sintomas que o paciente apresenta) e em seguida quando é feito o diagnóstico etiológico (saber qual doença está causando aquele conjunto de sinais e sintomas). Isto porque muitas vezes o paciente apresenta sinais e sintomas de depressão mas que podem estar sendo causados por outras doenças que estão causando repercussão no cérebro (depressão secundária) e não por sinais e sintomas que advém de uma alteração no próprio cérebro em si (a depressão primária ou simplesmente “depressão” assim denominada pelo leigo). São condições clínicas que podem produzir sintomatologia depressiva:

    Alterações Hormonais: alterações na tireóide, supra-renais, hormônios sexuais, hormônios da hipófise, hormônios pancreáticos, etc;

    Metabólicas: distúrbios do sódio, potássio, cálcio, magnésio, fósforo, cloro, ferro, zinco, cobre, etc;

    Hepáticas: insuficiência hepática;

    Neurológicas: tumores cerebrais, esclerose múltipla, parkinson, epilepsia;

    Medicamentos: interferon, alfametildopa, clonidina, propranolol, isotretinoína, vanericlina, benzodiazepínicos (diazepam, clonazepam, alprazolam).

    O paciente deprimido é sim capaz de identificar os sinais e sintomas da síndrome depressiva mas o diagnóstico precisa ser confirmado excluindo as outras causas da mesma sintomatologia. O grande problema disso é atribuir os sintomas como sendo decorrentes de uma alteração cerebral (depressão primária) e correr o risco de serem decorrentes de outras doenças subjacentes que não foram identificadas, de forma que estas doenças não estarão sendo adequadamente tratadas podendo evoluir de maneira insatisfatória.

    • TRISTEZA NORMAL E TRISTEZA PATOLÓGICA

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    Como diferenciar uma tristeza persistente de uma depressão leve que já se instalou?

    Com a ampla divulgação que as alterações cerebrais psiquiátricas vem ganhando é muito comum estarmos diante de quadros leves onde a dúvida levantada é se já podemos fazer um diagnóstico de depressão leve ou se a apresentação sintomatológica apresentada pelo paciente decorre de uma resposta psicológica normal frente a um estressor negativo de vida. Esta questão além de importante clinicamente deve ser sempre detalhada porque contribui muitas vezes para uma visão errada que as pessoas têm sobre depressão. Não é raro nos depararmos com a ideia de que a depressão é uma tristeza muito intensa com a qual o indivíduo não soube lidar corretamente e que acabou se transformando em uma doença. Na verdade, nenhuma tristeza normal se torna depressão “se a pessoa deixar os sintomas evoluírem”, a depressão é uma doença muito mais física do que se imagina, depende de uma alteração na forma como o cérebro está funcionando para de fato produzir toda a sintomatologia que clinicamente conhecemos. Estressores psicológicos negativos que produzem tristeza e infelicidade obviamente podem deixar a pessoa triste e pessimista diante da vida mas em termos de doença psiquiátrica a pessoa só vai apresentar um quadro depressivo se o estressor psicológico ou físico (medicamentos por exemplo) for um fator predisponente suficientemente forte para desencadear desorganização da fisiologia cerebral e do corpo como um todo. Dessa forma, se uma pessoa apresentar além de sintomatologia de humor deprimido (tristeza ou apatia), sintomas como fadiga e falta de energia, lentificação do pensamento (dificuldade para pensar e se concentrar), falta marcante de prazer, falta de iniciativa (dificuldade de começar as tarefas) e lentificação motora (dificuldade para se locomover), mesmo que leves podemos estar diante de um quadro depressivo. Estas colocações se tornam importantes porque muda o paradigma e a forma como a depressão era enxergada antigamente, em que os fatores psicológicos que davam predisposição para o início do quadro eram vistos como “causas psicológicas” da depressão (antiga depressão reativa) ou quando a pessoa deprimia sem fatores identificáveis denominava-se “causas físicas” de depressão (antiga depressão endógena). Hoje em dia, tendo ou não “fatores identificáveis” que antecederam a depressão sabemos que o tratamento (medicamentoso ou psicoterápico) protege o cérebro e auxilia no retorno ao funcionamento anterior do indivíduo.

    • TRATAMENTO DA DEPRESSÃO

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    É verdade que nem toda depressão precisa de medicamentos para um adequado tratamento?

    É normal que toda vez que se fale em depressão venha logo à cabeça a imagem de medicamentos e até de internação psiquiátrica, mas a verdade é que apenas quadros moderados a graves precisam necessariamente de medicamento e às vezes de internação. Quadros depressivos leves muitas vezes são auto-resolutivos, isto é, podem melhorar espontaneamente mesmo sem intervenções psicológicas ou remédios psiquiátricos e a pessoa pode nunca saber se de fato esteve ou não deprimida porque não passou por avaliação. Mas se observarmos outras áreas da Medicina veremos que o processo diagnóstico não é diferente e que quadros leves e menos característicos também produzem dúvida diagnóstica. Uma pessoa que acabou de mudar de emprego e que está sem dormir pode apresentar elevação na pressão arterial de forma leve por cerca de 2 semanas até se adaptar melhor ao novo trabalho e os níveis de pressão ser normalizarem e não vai receber o diagnóstico de hipertensa até uma melhor avaliação temporal. Da mesma forma, uma pessoa que está passando por uma perda ou por algum estressor potente recente pode apresentar uma quadro de humor deprimido, falta de prazer, falta de iniciativa para coisas novas, dificuldade para raciocinar por pensamento lentificado e dificuldade para dormir por algumas semanas. Tecnicamente este indivíduo está com um quadro depressivo leve porém quadros depressivos leves podem ser tratados apenas com mudança de estilo de vida, exercícios e controle da alimentação ou psicoterapia e alguns deles possuem resolução espontânea, não requerendo #tratamento nenhum. O tratamento medicamentoso entretanto pode ser necessário mesmo em casos leves, principalmente em pessoas que já apresentaram quadros mais graves no passado e naqueles com alta recorrência de depressão

    • ANOREXIA NERVOSA

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    Algum medicamento modifica a forma como o paciente com anorexia nervosa pensa?

    A anorexia nervosa embora ainda de causa desconhecida se aproxima muito de um distúrbio cerebral do pensamento onde há um medo muito grande de ganhar peso e engordar e uma fixação ou obsessão pela magreza. O maior desafio no tratamento da anorexia é fazer a pessoa reconhecer que tem uma doença, porque casos graves que ultrapassam o limiar para o diagnóstico via de regra cursam com uma crítica pobre acerca do estado mórbido. A maioria das pessoas com anorexia nega que tem um distúrbio alimentar. Em geral, as pessoas somente começam um tratamento quando a doença já atingiu seu estado grave. Os objetivos do tratamento para a anorexia são recuperar o peso corporal e os hábitos alimentares normais. Um ganho de peso de 0,5 a 1,4 kg por semana é considerado um objetivo seguro mas vai depender de cada caso. A maior parte dos casos pode ser feita fora do hospital e com o suporte de psicoterapias comportamentais que auxiliem uma exposição frente a fobia de ganhar peso e uma reconstrução da relação do indivíduo com a comida. Em muitos casos observa-se que a magreza se torna para a pessoa sinônimo de sucesso, de fama, de bom desempenho social e emocional e que o ganho de peso seria o fracasso de tudo isso. O paciente com #anorexia deve começar o tratamento tendo a consciência e a humildade de saber que pode não estar julgando adequadamente a realidade e que o ganho de peso por mais difícil e doloroso não é um sinal de fracasso mas sim de vida saudável. É muito comum observarmos que pacientes com anorexia nervosa escondem outros fatores e dificuldades psicológicas da vida atrás da questão central do peso e este também será um dos pilares do tratamento já que a vida destes pacientes torna-se exclusivamente centrada nestas questões. Nenhum medicamento até o momento mostrou-se capaz de modificar a forma como o cérebro de um paciente com anorexia nervosa funciona mas eles podem ser utilizados juntamente à psicoterapia como adjuvante em sintomas associados à doença, por exemplo, ansiedade e crises de pânico que podem ocorrer quando da exposição à comida e ao ganho de peso ou sintomas depressivos associados ao fracasso que relacionam ao engordar.

    • CONSEQUÊNCIAS DA ANOREXIA NERVOSA

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    Quais as consequências que uma pessoa com anorexia nervosa pode ter à sua saúde?

    Embora a perda de peso na anorexia nervosa habitualmente seja lenta e crônica, mesmo assim esses pacientes estão em risco para vários distúrbios corporais decorrentes da falta de nutrientes e dos mineiras importantes obtidos na alimentação. Por exemplo:
    Edema e inchaço nos membros inferiores pela falta de sódio (mineral que controla o líquido);
    Enfraquecimento dos ossos pela falta de cálcio;
    Arritmia cardíaca pela falta de potássio (mineral que regula o ritmo do coração);
    – Redução de glóbulos brancos levando ao aumento do risco de infecções;
    Desidratação grave prejudicando o funcionamento dos rins;
    Desnutrição com falta de proteínas levando a prejuízo cognitivo (dificuldade de memorização e raciocício);
    Convulsões devido à perda de líquidos como resultado de diarreia repetitiva ou vômitos em alguns casos;
    – Problemas na glândula tireoide que fica desregulada com a doença;
    – Cáries dentárias devido à alteração na acidez da cavidade oral;
    – Em homens, queda nos níveis de testosterona diminuindo o vigor físico e a fertilidade;
    – Em mulheres, mudanças no período menstrual, redução na libido e na fertilidade;
    – Aumento no risco de outras doenças psiquiátricas como depressão, ansiedade, uso de drogas e outros.

    • PSICOSE SECUNDÁRIA

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    Psicose é o nome dado a uma síndrome psiquiátrica (conjunto de sinais e sintomas) na qual existe alteração da forma como o cérebro capta a realidade com consequente prejuízo no pensamento, na resposta afetiva e no relacionamento interpessoal. Faz parte do quadro dos pacientes psicóticos a presença de delírios (crenças convictas não compartilhadas pelas outras pessoas como por exemplo “Tenho certeza que estão nos observando porque vi uma câmera invisível sendo instalada aqui dentro de casa”) e/ou alucinações (percepção de estímulos que não estão no meio mas produzidos pelo cérebro do paciente como “escutar vozes” ou “ver imagens que ninguém mais vê”). Nem todo quadro psicótico decorre de uma alteração na forma de funcionar do próprio cérebro (exemplo: a esquizofrenia), mas muitas são sintomas cerebrais de outras doenças físicas que estão dando manifestação cerebral. Alguns quadros podem produzir sintomas psicóticos sem necessariamente significar que a pessoa tem uma doença psiquiátrica psicótica, por exemplo:

    – estado confusional agudo: quadro secundário a infecções diversas no corpo ou mesmo a medicamentos específicos, mas com sintomas psicóticos que são plenamente reversíveis uma vez tratada a causa de base;
    – psicose associada a epilepsia: quadros que melhoram com a estabilização da doença;
    – psicose associada a lesões no sistema nervoso central (tumores, traumatismos, malformações, outros);
    – doenças degenerativas (coréia de Huntington);
    distúrbios metabólicos (doença de Wilson);
    drogas (abuso de anfetaminas, cocaína, alucinógenos e solventes);
    medicamentos (corticóides).
    – doenças infecciosas (meningite, encefalite e a infecção pelo vírus HIV).

    • BULIMIA NERVOSA

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    A bulimia nervosa é um tipo de transtorno alimentar caracterizado por uma necessidade crescente e exagerada de controlar o próprio peso. No ciclo da doença é comum em um primeiro momento o paciente tentar fazer privação alimentar permanecendo horas sem se alimentar mas que muitas vezes vem seguido de episódios de compulsão ou descontrole alimentar no qual acaba ingerindo uma grande quantidade de comida em um curto intervalo de tempo com uma sensação mental de perda de controle. Em um terceiro momento, o paciente lança mão de medidas purgativas, isto é, medidas comportamentais que visam prevenir o ganho de peso ao tentar se livrar do que comeu e isso pode se dar de várias maneiras:


    – provocando o vômito (maneira mais classicamente associada a bulimia nervosa);
    – usando tomando laxantes para evacuar em grande quantidade;
    – ingerindo diuréticos para perder líquidos;
    – fazendo exercícios físicos extenuantes;
    – usando medicamentos que tiram ou apetite ou fazem perder peso;
    – usando drogas que aumentam o gasto energético (cafeína, energéticos e cocaína);

    Acredita-se que a bulimia nervosa seja um transtorno muito mais comportamental do que cerebral propriamente dito e uma prova disso é que melhora muito com tratamentos não – farmacológicos. Uma equipe formada por médico, nutricionista e terapeuta pode ajudar o paciente a se recuperar o ensinando padrões alimentares saudáveis e a como controlar suas emoções. Medicamentos antidepressivos e estabilizadores de humor também podem ser usados no tratamento de sintomas associados.

    • DEPRESSÃO E ALTERAÇÕES DE VOZ

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    É POSSÍVEL DIAGNOSTICAR DEPRESSÃO APENAS PELA VOZ?

    O transtorno depressivo é uma doença química do cérebro que faz os processos cerebrais acontecerem todos de uma maneira reduzida:

    1) o humor cai (desesperança, inutilidade, vontade de morrer), a energia cai (fadiga desproporcional).

    2) os impulsos e a iniciativa caem (a pessoa não sente vontade de fazer absolutamente nada, não tem novos planos, enrola pra tomar decisões, empurra tudo com a barriga).

    3) o prazer pelas coisas reduz ou vai a zero (tudo perde a graça e o sabor, mesmo coisas antes prazerosas).

    4) o pensamento se lentifica (a pessoa fica devagar, menos eficiente, menos criativa, mais lenta pra raciocinar, se sente menos inteligente por isso).

    5) os processos neurológicos também se reduzem: o movimento fica mais lento, a sensibilidade menor e a voz fica alterada.

    Esse estudo é esta a constatação de que aquilo que clinicamente observamos realmente acontece, a pessoa com depressão altera sua voz persistentemente (por vários meses) em vários sentidos:

    – Intensidade: a pessoa fala mais baixo, mesmo que sem perceber e às vezes tem medo de levantar a voz, como se fosse agredir o outro ou chamar muita atenção pra si (mesmo nunca tendo sido tímida).

    – duração: as frases são mais curtas. Enquanto antes emendava frases uma nas outras ou puxava assuntos, em depressão a pessoa encurta os diálogos.

    – prosódia: tem a ver com o tom da fala, a pessoa deprimida involuntariamente mantém todo o discurso em tons baixos e constantes, não intensifica nenhuma palavra, não demonstra surpresa ou qualquer outra emoção no discurso, é monotonamente igual do início ao fim!

    O uso da expressão verbal como forma de identificar um deprimido é muito útil! Lembrando que nem toda depressão precisa de tratamento medicamentoso e que depressão NÃO é causada por fatores psicológicos ou da vida da pessoa. Um momento de vida ruim ou um luto pode alterar a forma como o cérebro da pessoa funciona e fazê-lo funcionar quimicamente de maneira depressiva, mas esse fator psicológico NÃO é a causa da depressão mas um GATILHO para as alterações fisiológicas cerebrais! Por isso, o deprimido não é capaz de mudar por si só ou mudar a onda de pensamentos! Dizer isso para um deprimido é como incentivar um asmático a correr!

    • TRANSTORNO DISMÓRFICO CORPORAL

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    Indivíduos com transtorno dismórfico corporal (dismorfofobia) vivem intensamente e constantemente preocupados com uma ou mais características na aparência física própria. Em virtude da sobrevaloração do problema acreditam parecer feios, pouco atraentes, anormais ou deformados. As falhas identificadas pelo paciente não são observáveis ou são consideradas discretas para os outros indivíduos. Os problemas podem concentrar-se em uma ou em muitas áreas do corpo mas são mais comumente na pele (por exemplo acne, cicatrizes, linhas, rugas, palidez) e cabelo (por exemplo, achar que é fino ou assimétrico), mas podem também serem queixas de problemas nos olhos (acharem que são tortos ou de tamanhos diferentes), dentes (acharem que são escuros ou de formatos diferentes), seios (acharem que são grandes ou pequenos, assimétricos, caídos, etc), pernas (achar que são tortas ou esquisitas); tamanho ou forma da face (acharem que um dos lados do rosto é afundado ou desproporcional), lábios (achar que são grandes ou pequenos demais), queixo, sobrancelhas, órgãos genitais, etc. As preocupações com a aparência física são intrusivas (isto é, invadem o pensamento e tiram a concentração sobre outras atividades), indesejadas e demoradas (ocorrendo várias horas por dia) e geralmente são difíceis de resistir ou controlar, quando percebem já estão pensando no suposto problema ou se olhando no espelho ou em superfícies refletoras ou através da câmera do aparelho de celular. Podem ocorrer comportamentos repetitivos excessivos (olhar no espelho várias vezes, verificar fotos ou imagens repetidas vezes) ou atos mentais em resposta à preocupação (por exemplo, comparação com o corpo de outras pessoas ou fotos ou vídeos assistidos).

    • HOSPITAIS PSIQUIÁTRICOS

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    Hospitais psiquiátricos são prisões que pioram a saúde mental dos internados?

    Em recente reportagem da BBC Brasil um relato extraído de um diário de uma adolescente britânica dá a entender que a menina foi internada à força em uma clínica psiquiátrica para adultos e por estar em um local diferente da sua faixa etária acabou piorando sua condição clínica e se matou por suicídio. Análise parcial, superficial e enviesada de uma situação que só quem vive dentro de hospitais psiquiátricos, vendo histórias muito semelhantes, sabe que não é bem assim…

    1- A doença cerebral psiquiátrica tem uma “carreira”, dificilmente você verá um caso grave que teve início semana passada e que resultou em algo trágico como um suicídio semelhante a este! E no caso descrito não foi diferente, é uma adolescente com um histórico grave, longo, com sintomas desde a infância. Portanto, pelo que foi descrito, trata-se de um caso difícil e com múltiplas internações, qualquer desfecho ruim deve-se muito mais à gravidade do caso do que ao local onde ela internou ou à falta de outros adolescentes para ela conversar ou à falta de recursos da clínica ou a “prisão que são os manicômios” ou a “atitude policialesca de internações involuntárias psiquiátricas” ou qualquer outro discurso pronto e superficial que só deseja criticar do que construir. Internações psiquiátricas visam preservar a vida da pessoa ou proteger a sociedade dos comportamentos decorrentes dos sintomas que o indivíduo está apresentando. Deixar a pessoa “convivendo em sociedade” ou “expressando seu direito de ir e vir” não vão tratar a doença psiquiátrica como pregam algumas correntes que se dizem humanistas mas desconhecem a realidade de um transtorno mental. Ao contrário, podem agravá-la, além de prejudicar a própria pessoa acometida, que pode se expôr e cometer crimes contra si ou contra outros, que não cometeria se estivesse com as funções cerebrais em ordem.

    2- Uma pessoa passa a ter idéias e tentativas de suicídio constantes não porque está triste ou desesperançosa com a vida apenas. A maior parte dos casos de suicídio tem um transtorno cerebral psiquiátrico (geralmente um transtorno do humor) por trás distorcendo a realidade e/ou a forma de pensar do indivíduo. Ele não tem escolha, ele não vê escolha. Ele não está sob o controle, não podemos usar nossa lógica para lidar com esse tipo de comportamento porque a lógica que o cérebro desta pessoa está usando é diferente. É uma lógica sob o óculos do humor deprimido, tudo está alterado, a pessoa neste ponto não vai mudar de opinião após uma conversa com um amigo, é mais profundo do que isso. Muito do que a pessoa diz deprimida é uma tentativa de achar uma explicação ou justificativa para as coisas, mas muitas vezes são tentativas aleatórias de aliviar o sofrimento, então reclama da família, do hospital, da cama, do local, etc. Ela deve ser ouvida mas muito desse discurso está contaminado pelo humor deprimido e isso tem que ser levado em consideração! O meio em que a pessoa se encontra pode ser um mantenedor ou até agravante do quadro mas não gera ideias e tentativas de suicídio por si só, precisa haver um adoecimento nos processos psíquicos que dá um terreno fértil para estes quadros, portanto o suicídio, em sua maior parte dos casos, não é uma atitude social. E nesse caso descrito provavelmente não foi!

    3- Doenças graves existem em vários ramos da medicina e o desfecho geralmente é pior. Casos mais simples geralmente melhoram, muitas vezes sem remédio e até sem terapia, mas são os casos graves que não melhoram, mesmo todos os tratamentos empreendidos e que estão em risco o tempo todo, com as idéias de suicídio “batendo à porta o tempo todo”. Esses casos vão requerer mais internações e estes casos podem representar as estatísticas dos casos de suicídio dentro de instituições psiquiátricas (considerando que são instituições de boa qualidade e com adequada supervisão).

    Portanto, quando me deparo com reportagens como estas me vejo na obrigação de lamentar o ocorrido mas de resguardar o papel da internação dos hospitais de proteger a vida da pessoa acometida com uma doença mental. E lembrar que o ambiente do hospital é inóspito e muitas vezes a pessoa estará convivendo com outros doentes até mais graves do que ela, mas que não necessariamente a doença do outro irá agravar a deste e que o ambiente deve ser sim o mais humanitário e acolhedor mas que muitas vezes os desfechos ruins advém de doenças difíceis e que apesar de todos os esforços acabam não tendo o sucesso por todos desejado!

    • PÍLULAS ANTICONCEPCIONAIS E DEPRESSÃO

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    Como anos de pílula anticoncepcional me trouxeram depressão e ataques de pânico!

    Este é o título de uma reportagem de 13 de janeiro de 2017 da BBC Brasil. Todo meio de informação tem um poder muito grande de influenciar a tomada de decisão das pessoas e isso deve ser feito de maneira muito responsável e esclarecida. Esta reportagem coloca em evidência o conteúdo do livro de uma americana chamado “Sweetening The Pill” (“Adoçando a Pílula”), publicado em 2013, em que de maneira não-científica e baseado na opinião e experiência pessoal da autora ela coloca em pauta os efeitos da contracepção hormonal na saúde mental das mulheres.

    Achei interesse discutir alguns tópicos que me incomodaram nesta reportagem:

    1- Realmente não são apenas os fatores psicológicos que desencadeiam depressão. Isso serve para derrubar a visão ultrapassada e medievalesca de que se uma pessoa deprimia era porque algo na vida dela não ia bem, e aí íamos à caça às bruxas: relação com os pais? Trabalho? Crise existencial? Crise de fé? Sim, fatores estressores de vida são fatores importantes na gênese de inflamação e no aumento de hormônios do estresse (cortisol, ferritina, homocisteína, PCR) e por conseguinte alteração das regiões que controlam o humor no cérebro (hipocampo, amígdala, giro do cíngulo, córtex pré-frontal) que vão repercurtir comportamentalmente em sintomas que chamamos de depressão, porém algumas substâncias químicas podem diretamente alterar a maneira como o cérebro está funcionando e também produzir os mesmos sintomas de oscilação do humor, mesmo sem fatores psicológicos identificáveis! Como exemplos disso temos já estudos sérios e científicos sobre alguns imunossupressores usados no tratamento de doenças imunológicas e alguns anti-hipertensivos que podem desencadear depressão em pessoas vulneráveis!

    2- A relação entre alteração do humor e oscilação dos níveis hormonais femininos já vem sendo estudada há vários anos. Até o momento, o que o meio científico sabe é que o uso das pílulas anticoncepcionais reduzem as oscilações hormonais na mulher e por consequência previnem sintomas depressivos e ansiosos, quer sejam eles associados ao ciclo menstrual (TPM) ou não. Dizer que a pílula foi a causa da depressão e do transtorno de pânico, como na reportagem, esbarra naquilo que no meio científico chamamos de fatores confundidores, que são situações que ocorrem juntas e que levam ao pesquisador ao erro de associar a causa de um desfecho a um fator equivocado e não à verdadeira causa. Na situação em questão a menina é uma adolescente que atribuiu sua depressão à pílula. Podem e devem ser graves fatores confundidores os seguintes fatos:

    – Depressão ocorre mais em mulheres;
    – Depressão acomete muito a faixa etária jovem;
    – Jovens têm mais oscilação de humor que adultos;
    – Se a família da jovem tem muitos casos de depressão esse é um grave fator confundidor;
    – Fatores psicológicos de maior instabilidade ocorrem na faixa etária adolescente.

    Enfim, apenas a título de esclarecimento, até o momento o uso da pílula reguladora hormonal auxilia a maior parte das mulheres com oscilações de humor e garante a elas uma vida muito saudável e livre de ansiedade e perda de funcionalidade por depressão. A mulher é biologicamente vulnerável para ter depressão em todas as fases da sua vida: quando começa a menstruar pode ter mais depressão, quando engravida e entra no pós-parto pode ter mais depressão; todo mês que oscila os hormônios e menstrua pode ter mais sintomas depressivos e por fim ao entrar na menopausa a mesma coisa. Portanto, além de todos os benefícios óbvios ginecológicos da pílula, ela ainda é um instrumento de grande valia para nós médicos psiquiatras na busca por oferecer uma qualidade de vida emocional às mulheres!

    • FUNÇÃO EVOLUTIVA DA DEPRESSÃO

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    Existe uma função evolutiva para a depressão?

    Me deparei com uma publicação de um site americano  acerca de correntes teóricas na Psicologia que postulam haver uma função evolutiva e benéfica da depressão. Estas hipóteses divergem muito das de quem estuda depressão do ponto de vista médico, isso porque estas visões entendem depressão a partir da análise do comportamento de quem está deprimido. Para estas correntes a pessoa deprimida ao se deparar com um problema ou algo negativo fica demasiadamente envolvida em pensamentos acerca do problema e com isso evolui aprendendo a resolve-lo. Seria como dizer que deprimir tem um lado positivo!

    Na Psiquiatria nós lidamos com o comportamento observável mas vemos o subterrâneo desse comportamento que é o cérebro funcionando e pra nós a depressão é sempre DOENÇA e como qualquer doença, NÃO tem função evolutiva pois prejudica o funcionamento do indivíduo e o coloca em desigualdade com os outros seres da sua espécie. Além disso, depressão não permite melhoras na espécie, pelo contrário, reproduzir dois seres com depressão grave não gera nenhum ser mais evoluído, pelo contrário, a chance de se transmitir uma predisposição para deprimir ao longo da vida é alta!

    A depressão é muito mais do que alguém que esteja simplesmente com pensamentos ou ruminações negativas, podemos ver áreas desligadas no cérebro de pessoas deprimidas (ex: áreas relacionadas à energia, à disposição , à tomada de decisão, sono, etc). Dessa forma, a pessoa deprimida rumina mas essa forma alterada de pensar é totalmente ineficaz. Isso não é evolutivo porque na natureza, o mais rápido é melhor, vencem os mais ágeis e produtivos, os que pensam melhor e de maneira mais eficaz, que conseguem solução boa e imediata para os problemas e isso a depressão com certeza não faz, pelo contrário, prejudica e muito! Pensar de maneira positiva, rápida e encontrar soluções eficazes para os problemas, isso sim coloca a pessoa em pé de igualdade para competição com os demais, e não ruminações depressivas!

    A doença psiquiátrica só abre a possibilidade para explicações causais alternativas como “causas espirituais” ou “bruxaria” como era considerada na Idade Média porque os sintomas são alterações no próprio comportamento e não existem AINDA exames que possam comprovar que existe uma alteração FÍSICA ocorrendo. Por isso ninguém duvida hoje em pleno século XXI que uma isquemia cerebral (derrame) que faz a pessoa perder os movimentos, seja por “causas espirituais”, porque a doença neurológica causa LESÃO, ao passo que na doença psiquiátrica lidamos com alterações na FUNÇÃO do cérebro, por isso ainda hoje temos que conviver com a dúvida acerca dos nossos diagnósticos e com explicações alternativas que tiram o crédito de quem está doente. Por isso que a doença mental é a única doença em que o doente às vezes tem dúvida se o que sente é mesmo REAL ou se ele está sendo fraco ou está exagerando as coisas! Por isso que ainda hoje existem teorias que advogam que deprimir leva a uma evolução para o indivíduo. Eu não concordo!

    • PSIQUIATRIA COMO CIÊNCIA MÉDICA

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    Estamos vivendo uma nova era na Psiquiatria. Nos séculos XIX e XX havia uma cisão entre a Medicina e a Psiquiatria, enquanto a primeira era pautada no estudo da biologia do corpo humano e dos processos fisiopatológicos que levavam às doenças, a segunda era uma ciência quase que exclusivamente observacional e que sofria grande influencia de ideologias, de interpretações, de julgamentos e funcionou durante muito tempo como instrumento de controle social e cultural. Em virtude disso, os médicos que tinham um viés mais científico e neutro se interessavam mais por áreas mais objetivas e isentas de opinião pessoal (Cirurgia, Clínica Médica, Ginecologia) ao passo que aqueles que se afastavam desse modelo médico-biológico se interessavam e buscavam a Psiquiatria. O resultado disso é que por séculos houve um viés de seleção que trouxe para a Psiquiatria médicos que tinham uma predileção pessoal por aspectos não biológicos das doenças e que por muito tempo fez com que a Psiquiatria e suas doenças fossem vistas como sociais, culturais, um campo onde interpretações, opiniões pessoais e julgamentos de valor tinham muito espaço. Isso foi a base de muitas atrocidades, por exemplo uso de eletrochoque para tortura e de diagnósticos de psicose com finalidade política.

    A Psiquiatria do século XXI vem cada vez mais fortalecida de um conhecimento biológico, sério e neurocientífico e esta publicação da JAMA Psychiatry vem referendar esse amadurecimento da área. Está cada vez mais bem estabelecido que “mecanismos neurais estão presentes em TODO estado mental ou comportamento anormal”. Enquanto as doenças médicas (ex: hipertensão) são universalmente aceitas como sendo de etiologia física e é amplamente aceito que os fatores ambientais (ex: tabagismo, obesidade) funcionam como gatilhos e agravantes, a Psiquiatria por ser essencialmente comportamental sofre interpretações e explicações das mais variáveis esferas. Infelizmente até hoje os transtornos psiquiátricos não são vistos com respeito e credibilidade, sempre haverá alguém para emitir uma opinião pessoal para a causa dos sintomas, a vizinha, o líder religioso, a família, cada um se sente no direito e no saber de emitir uma opinião pessoal sobre o sofrimento psíquico alheio. Mas a pior forma de preconceito é aquela que vem de médicos e ainda mais de Psiquiatras, que por conta de uma formação social e cultural da Psiquiatria, misturam fatores sociais com sintomas, enviesando a análise e justificando o sofrimento. É nesse sentido que as instituições de maior respeito vêm para referendar o estudo das neurociências dentro da Psiquiatria e esclarecendo que fatores psicológicos e sociais são sim importantes mas não devem justificar ou desvalorizar o sintoma de quem sofre de uma doença cerebral psiquiátrica. Doenças Psiquiátricas são doenças físicas.

    • ASMA E SUICÍDIO

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    Você sabia que um estudo recente demonstrou associação entre asma e suicídio?

    Estudos encontraram correlatos estatisticamente significativos entre asma, ideação suicida e tentativas de suicídio. Uma vez que a asma e o suicídio são fardos de saúde pública importantes, um estudo que investigou o estado de saúde mental em pacientes asmáticos e sua relação com ideações e tentativas suicidas foi conduzido na Coréia do Sul onde as taxas de asma e de suicídio são elevados e descobriram que a asma aumentou o risco de ideação e tentativas suicidas, mesmo controlando os efeitos do status socioeconômico, do estado de saúde física, das doenças médicas crônicas comórbidas e do humor depressivo sugerindo que a inflamação da doença asmática possa ser um fator de risco independente para inflamação cerebral relacionada com suicídio.

    FONTE: Chung JH et al, 2016. Annals of General Psychiatry. Suicidal ideation and suicide attempts among asthma.

    • DEPRESSÃO PÓS-PARTO E GENÉTICA

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    Você sabia que já estão sendo estudados marcadores genéticos que possam prever o risco de uma mulher apresentar uma depressão após o parto?

    Estudos recentes destinados a identificar biomarcadores de depressão periparto demonstraram que dois genes, HP1BP3 e TTC9B, exibem diferentes padrões de metilação e que permitem diferenciar mulheres que apresentam depressão pós-parto que se iniciou durante a gravidez, de mulheres com depressão pós-parto que se iniciou exclusivamente nopós-parto. Estes achados já foram replicados em outros estudos semelhantes ao redor do mundo para saber se o achado era verdadeiro e o resultado foi positivo. Este tipo de pesquisa na Psiquiatria é importante pois podem levar a produção no futuro de um teste que seja capaz de prever o risco de uma mulher apresentar depressão pós-parto. Ainda não se sabe quais medidas serão suficientes para essa real prevenção (medicamento, psicoterapia ou os dois) mas a possibilidade de um teste como estes já abre uma possibilidade da mulher saber quais medidas cautelares precisa tomar para evitar que tenha um pós-parto deprimida.

    FONTE: Payne JL et al, 2016. Current Obstetrics and Gynecology Reports. Recent Advances and Controversies in Peripartum Depression.

    • DEPRESSÃO E DOR CRÔNICA

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    Você sabia que existe uma relação direta entre depressão e intensificação de dor física?

    A dor crônica é comum, afetando aproximadamente 1 em cada 5 adultos na população em geral. Evidências observacionais sugerem alguma forma de co-ocorrência entre dor crônica, depressão e doença cardiovascular (por exemplo, hipertensão arterial). No entanto, ainda há dúvidas se elas compartilham uma etiologia comum ou se ocorrem independentemente. Esta co-ocorrência de condições pode estar relacionada a alterações no sistema de resposta ao estresse e a processos metabólicos e inflamatórios, transmitidos por predisposição genética. Um grande estudo recente encontrou um aumento da co-ocorrência de dor crônica, depressão e doença cardiovascular em duas populações independentes (população geral e de gêmeos) sugerindo uma contribuição genética compartilhada.

    FONTE: Van Hecke O et al, 2017. PLoS One. Chronic pain, depression and cardiovascular disease linked through a shared genetic predisposition: Analysis of a family-based cohort and twin study.

    • MITOS DA DEPRESSÃO

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    MITO 1 – A depressão é uma tristeza que a pessoa não conseguiu dar conta e que por isso se transformou em doença.

    VERDADE – A depressão pode se instalar após um estressor psicológico negativo mas eventos negativos de vida podem ser gatilhos para alterações cerebrais que cursam com depressão mas não são necessariamente a sua causa.

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    MITO 2 – A eletroconvulsoterapia (antigo eletrochoque) é um tratamento que causa lesão ao cérebro.

    VERDADE – Estudos desde a década de 80 já deixaram bem claro que o ECT não deteriora ou lesa nenhuma estrutura cerebral se feito de maneira adequada à técnica.

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    MITO 3 – O uso crônico de antidepressivos causa dependência.

    VERDADE – Uma pessoa que tem mais de 3 episódios de depressão pode precisar usar antidepressivo pela vida toda para evitar recaídas. Nesses casos o antidepressivo não causou dependência mas precisa ser usado porque a doença se cronificou.

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    MITO 4 – Conversar sobre suicídio com um deprimido pode induzi-lo a se matar.

    VERDADE – Estudos demonstram com clareza que conversar sobre suicídio previne eventos como tentativas e planos suicidas pois funcionam como forma de acolhimento e suporte.

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    MITO 5 – Há sempre um problema psicológico oculto como causa da depressão.

    VERDADE – Nem sempre uma pessoa deprime porque tem um conflito psicológico mal resolvido. Os conflitos de vida podem ser estressores que funcionam como gatilho para a abertura do quadro em alguns doentes mas em muitos deles os gatilhos são outros (quebra do ritmo de sono, drogas, doenças inflamatórias, etc).

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    MITO 6 – Uma vez diagnosticada com depressão a pessoa precisará de tratamento para o resto da vida.

    VERDADE – A maior parte dos quadros depressivos tem começo, meio e fim se bem tratados. Uma minoria dos doentes permanece com sintomas cronicamente requerendo tratamento ininterrupto.

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    MITO 7 – É esperado que a pessoa deprima em situações difíceis como câncer e luto.

    VERDADE – Estressores negativos de vida podem produzir estresse que geram inflamação do sistema nervoso que passa a funcionar de maneira alterada com consequente manifestação dos sinais e sintomas que chamamos de depressão, mas nem todas as pessoas deprimem frente a este contexto, a maioria apresenta resiliência biológica e psicológica para enfrentá-los.

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    MITO 8 – A depressão não afeta homens e pessoas que ocupam o tempo com trabalho pesado.

    VERDADE – A depressão também acomete homens (embora em menor proporção por fatores hormonais e não por motivações como fragilidade emocional). Estudos mostram que a maior parte das pessoas que deprimem estavam trabalhando e não desocupadas.

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    MITO 9 – Força de vontade e fé ajudam qualquer um a sair da depressão.

    VERDADE – A força de vontade e a fé podem ser suficientes para auxiliar na recuperação da depressão (sem terapia e medicamentos) apenas nos casos leves de depressão. Em casos moderados e graves é necessário um tratamento psicológico e psiquiátrico combinado.

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    MITO 10 – Uma pessoa se automutila para chamar a atenção dos outros.

    VERDADE – Os estudos nesse assunto são conclusivos que a pessoa recorre à automutilação na maioria das vezes para lidar com um sofrimento emocional (na maior parte das vezes depressões mistas ou agitadas) e não como busca por atenção.

    • DEPRESSÃO E PROBLEMAS DIGESTIVOS

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    Você sabia que o sistema digestivo é vulnerável à influência de fatores emocionais?

    Isso ocorre porque o trato gastrintestinal é regulado principalmente pelo sistema nervoso vegetativo e pelo sistema endócrino e o centro destes dois sistemas tem a mesma localização anatômica que o centro cerebral de regulação emocional. Vários estudos têm demonstrado que a prevalência de transtornos depressivos e de ansiedade em pacientes com doenças do sistema digestivo é bem alta e estes pacientes tendem a visitar o Pronto-Socorro e os ambulatórios de gastroenterologia por causa de sintomas proeminentes no sistema digestivo mas muitos já apresentam sintomas leves de depressão ou ansiedade. Um estudo recente realizado ao mesmo tempo em várias populações do mundo identificou que depressão e ansiedade ocorrem em pacientes com tumores gástricos, cirrose hepática, dispepsia (gastrite) e hepatite viral crônica. Os pacientes que eram idosos, divorciados, viúvos e que tinham má qualidade do sono foram associados com maior risco de depressão e ansiedade.

    FONTE: Zhang AZ et al, 2016. World Journal of Gastroenterology. Prevalence of depression and anxiety in patients with chronic digestive system diseases: A multicenter epidemiological study.


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